sábado, novembro 29

Os politicos que temos

Do pouco que sei, sei que na vida há caminhos difíceis de percorrer. Os que de nós tem ideais carregam a cruz de os tentar defender e, mais do que isso, de os tentar implementar. Os ideais são planos de vida, são arquitecturas para um mundo melhor, engenharia para sociedades que pretendem aproximar-se da perfeição. A política devia ser a mais nobre das tarefas que cada um de nós poderia cumprir. Infelizmente, hoje, não o é.
Olho para o discurso de Victor Cruz na abertura do 14º congresso do PSD/Açores, cenário cuidado, écran gigante, mesa reduzida para realçar o púlpito, pose na diagonal para reforçar a naturalidade e o à vontade, poucos gestos, ritmo pausado, ênfase. Pela negativa, algum excesso no olhar, na tentativa de interagir com a plateia.
Ouço o discurso.
Ninguém, com um palmo de testa nos Açores, nega que somos uma região pobre, atrasada, inculta e, mais grave de tudo, fechada sobre si mesma. Tanto Victor Cruz como todos os 400 congressistas sabem, uns de uma maneira outros doutra, desta dura realidade. Nada do que foi dito neste discurso aponta no sentido de mudar esta realidade.
O estado da região, como em certa medida o estado do país, requer, ou melhor, necessita urgentemente, mais do que alternativas de governação, de modelos alternativos de cidadania. Participação plena de todos nós, em tudo o que nos seja possível, na organização e desenvolvimento do espaço físico e social onde estamos inseridos. Ao reduzir o futuro dos Açores a uma luta entre o socialismo e os açorianos, ao reduzir o futuro dos Açores a uma luta bipolar entre este governo ou o seu governo, ao apelar a uma incondicional união de ideologias, que à partida são incompatíveis, ao não apresentar ideias ou propostas concretas de mudança para além dos customeiros clichés demagógicos de apelo ao voto cego, Victor Cruz transmitiu uma imagem de um lider que quer conquistar o poder a todo o custo. Quem ficou a perder com isso foram os Açores.
Os Açores necessitam, tal como o país, de uma discussão preocupado e coerente dos seus problemas. A luta política deveria ser essa discussão. Desde a eleição para a Junta de Freguesia até à eleição do Presidente do Governo ou da República as alternativas de governação deveriam ser o ponto principal dos discursos e do debate político. O que assistimos da parte de Victor Cruz foi o reduzir do debate político a um maniqueismo patético entre direitas e esquerdas que, vistas desse prisma, não significam absolutamente nada.
Ter ideais não é o mesmo que ter ideias e algumas pessoas ainda se lembram da incompatibilidade entre PSD e CDS. Tempos houve em que o próprio Victor Cruz esteve na primeira linha de oposição a tal aliança! Esquecer estes factos apenas porque é preciso destituir a esquerda é o pior e o mais baixo dos argumentos.
Mas para mim e, porque a critica já vai longa, a constatação mais triste que tiro do discurso de abertura do congresso de Victor Cruz é esta: Carlos Cesar fugiu para o Brasil e, pura e simplesmente abdicou do debate de ideias, já para não falar do debate entre ideologias.
Nós todos merecíamos políticos melhores.

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