sábado, dezembro 27

A não lista.

Aparentemente o Natal para além de época de reuniões de família é também época de listas. Por todo o lado surgem listas, infindáveis resenhas do melhor e do pior do ano que passou. Como se a vida dos homens tal como as lojas fechasse para balanço em cada final de ano. Numa azafama classificadora apressam-se críticos e jornalistas a catalogar os melhores filmes, os discos, os livros, os golos, as tristezas, os abalos, as mortes. E assim impecavelmente etiquetado segue o nosso mundo cada vez mais kafkiano. Chego a pensar que esta transição de milénio que vamos passivamente vivendo sofre de caso agudo de síndroma bipolar. Tão depressa eufóricos para no segundo seguinte depressivos. Tão depressa uma festa no segundo a seguir um terramoto. E quais psicanalistas do efémero jornalistas, críticos e comentadores, correm a catalogar, a hierarquizar em impecáveis listas todos os espaços e momentos das nossas vidas. Como se devidamente arquivados os acontecimentos deixassem de nos tocar, de nos emocionar, fossem apenas sound bytes, passíveis de serem arrumadinhos nas prateleiras da memória para que a próxima leva de entretenimento noticioso tenha o campo aberto nas nossas mentes para actuar. Como se fechando o passado em pequenas caixas de cartão nos libertasse-mos dele e instantaneamente ficasse-mos prontos para um nova fornada de estímulos. É claro que nessa euforia festiva das listas de final de ano se esquece tudo o resto que não foi noticia, que não teve espaço nas primeiras páginas, que não abriu os telejornais, ou que não foi acontecimento o suficiente para ser comentário, esquecesse o humano. Na minha mente não existem listas, existem afectos, laços que ligam em cadeia um turbilhão de pontos de interesse e de estímulos que compõem, em conjunto como num quadro, o universo imenso da vida. Para mim o melhor da vida é não ser feita de segundos mas de eternidades. A mim interessa-me mais do que aquilo que passou aquilo que fica e que com a sua presença compõe o quadro do que sou.

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