domingo, junho 13

a desgraça do tempo

Há um problema de imediatismo na blogoesfera. A fúria rápida dos acontecimentos é antibloguística. Depois não se pode ter um blogue e ter problemas de inspiração, ou falta de pachorra, até quando não apetece escrever nada é preciso avisar escrevendo que não se vai escrever nada. Será que já alguém estuda, numa qualquer faculdade de psicologia americana, o writer's block dos bloguistas? Pergunto eu quando não tenho mais nada para pensar, ou escrever. Nos últimos dias muito tenho querido escrever, o 6 de Junho, o livro da marquesa, o livro do Pedro Mexia, a morte de Sousa Franco, a selecção nacional, as bandeiras, mas nada consigo. O trabalho, sim o trabalho, que é de vários tipos e tem várias formas, impede-me de ter tempo para o blogue e os assuntos vão passando, como os posts no fundo da página passam para o arquivo. Quantas pessoas lêem os arquivos dos blogues, quantos de nós nos interessamos mesmo pelo que ficou escrito, pelo que passou. Será que escrever sobre algo que se passou faz já dois ou dez ou quinze dias despertará algum interesse em quem cai aqui e lê, chegará esse alguém a ler? O livro que o Pedro Mexia agora publicou e que reúne posts de blogues extintos é uma forma interessante de arquivo, mas será lido? Nunca guardo no computador o que escrevo para o blogue, o meu único arquivo é o próprio blogger e se um dia esse deixar de existir também o meu eu bloguista desaparecerá, não digo que não seja interessante e meritório o que o Pedro Mexia escreve, não, eu próprio vou comprar o livro e vou lê-lo e arquivá-lo, mas a pergunta que deixo é - que importância tem a escrita do blogue para quem a lê, sei lá, dois dias ou vinte anos depois? Aquando da data quis aqui escrever sobre o aproveitamento oprtunistico da simbologia do 6 de Junho, como da do 10 de Junho, como da do 5 de Outubro, não o fiz na altura valerá apena agora faze-lo, terá o mesmo impacto? O post que o João Nuno aqui deixou quebrou todos os recordes de comentários, mas hoje quantos de nós regressamos ao assunto com ideias para deixar? A interpretação do João Nuno de que o 6 de Junho foi um momento crucial para a instauração da democracia no Portugal pós 25 de Abril é, a meu ver, totalmente abusiva e descabida, tal como muitos dos argumentos que depois foram sendo deixados nos comentários. O que está na génese da manifestação do 6 de Junho não é um movimento democrático mas uma minoria de senhores com interesses económicos uns, ou com anticomunismos primários outros, que ameaçaram o sistema então instituído apenas com a intenção de não perder privilégios, nunca com a intenção de instaurar o que quer que fosse muito menos uma democracia. A questão política era a última das questões no 6 de Junho. Tudo se resumia a tostões e privilégios. Como se veio a demonstrar com o futuro político dos senhores do 6 de Junho. Se querem louvar alguém pela democracia que hoje temos nos Açores louvem o Dr. João Bosco e não a trupe do 6 de Junho. Mas isto hoje já não interessa nada porque já veio o 10 do mesmo mês e já se louvou o Portugal unido e com autonomias. Camões, comunidades, língua e os Açores junto no bolo-rei, somos o brinde ou a fava? O Portugal que é um país como os outros, uma entidade geográfica, um passaporte. Que não se devia distinguir por datas simbólicas mas por atitudes, por gestos, diariamente, em tudo o que faz a vida dos seus cidadãos, em cada momento. Mas continuamos a viver de eventos, de euforias cíclicas como se andássemos permanentemente nos copos e ciclicamente de ressaca, deitados na cama com dor de cabeça e Guronsans, uns atrás dos outros. E por tudo isto e pela selecção nacional toca de agitar bandeiras republicanas que são ou não são o Portugal todo? E isso interessa? Claro que não! Interessa apoiar de forma sensata a selecção nacional como qualquer outro atleta que corra por Portugal, por nós todos portugueses, importa votar e participar civicamente em todas as eleições, porque isso sim é democracia, importa gritar as injustiças, e corrigir os excessos. Importa como tanto me apeteceu nestes dias, gritar a minha mágoa pela política cultural vergonhosa dos nosso políticos que privilegia a brejeirice, o rasco, o pueril, o imbecilismo, a desgraça e o mínimo denominador comum, é isso que importa mas talvez mesmo isso já não tenha interesse nenhum. Agora que Portugal perdeu, que o teatro acabou, que a tasca continua, que mais de 60% dos portugueses não quis dizer nada...

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