sexta-feira, janeiro 14

Sob o signo de Amanda



É a minha primeira posta. Ouço que, segundo a etiqueta bloguística, é preciso identificar-me. Sou o Carlos G. Riley. Ando pelo meio-dia da vida e licenciei-me em História, um curso espantosamente útil que - mercado dixit - não dá para nada. O G. no meio do nome é para distinguir de um meu primo homónimo, homem de paz a quem não quero meter em mais trabalhos. Dizem também que devo revelar ("full disclosure") aquilo com que me identifico... então aqui vai um primeiro amor: Roxy Music.

A 24 de Março de 1973, por altura do "golpe das Caldas", era editado o segundo LP dos Roxy - For your pleasure - com a Amanda Lear na capa, toda ela um sonho molhado de vinyl, pantera negra pela trela. Bem dizia o Bryan Ferry na melhor faixa do disco (In every Dream Home a Heartache):

Inflatable doll, my role is to serve you (...) disposable darling, my breath is inside you (...) I blew up your body, but you blew my mind.

E foi mesmo assim. Fiquei com a cabeça a andar à roda quando ouvi aquilo pela primeira vez, nas almofadas da garagem do Jorge, em Carcavelos.

Eu sei que é piegas, mas devo assumir o meu soft spot pelos anos setenta, "the decade that taste forgot", como dizia o Ian Penman do New Musical Express. Grandes colheitas, nessa altura. A Amanda, por exemplo, de quem hoje já pouca gente fala. Era uma daquelas belezas andróginas feitas à medida do Andy Warhol, mas o Salvador Dali apanhou-a primeiro. O Guardian, que é um jornal sério, diz que ela lhe foi apresentada pelo Brian Jones, dos Rolling Stones, na swinging London dos anos sessenta. Depois da morte do Brian numa piscina, a Amanda foi amante do David Bowie (bruxo!) e do Bryan Ferry. Só no final da década de 70 é que passou do estatuto de "Roxy girl" para o de rock star, quando inicia a carreira a solo em plenos dancing days do disco sound.


Musicalmente, a Amanda Lear nunca foi grande espingarda. Mas o seu corpo e as suas capas vendiam milhões, sobretudo na Itália e na Alemanha. Tirando isso, que já não é pouco, havia ainda o timbre da sua voz baixa. Abissalmente baixa. Comparada com ela, a Grace Jones passava por soprano. Começou então a especular-se sobre a sua identidade sexual, mas nem uma edição da Playboy com honras de centerfold desfez os equívocos. Foi quanto bastou para transformá-la no mais enigmático travesti da minha geração. Ainda hoje vive, no sul de França, como a Brigitte Bardot, mas parece que está mais bem conservada.

Lembrei-me dela a propósito da quadra que agora começa. O Entrudo este ano dispensa gatinha brasileira de novela; temos Carnaval eleitoral à vista e o tema dos bailes é o transformismo político e ideológico. Quem vai mascarado de quê???. Aceitam-se sugestões. Dão-se alvíssaras.

De uma coisa estou certo: quem não for tão bom como a Amanda não merece ser primeiro-ministro.

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