sábado, março 5

A NÓDOA NEGRA



Eram dispensáveis os dotes de presciência de um Zandinga para vaticinar que estes próximos quatro anos de Governo seriam pautados por alguns folhetins circenses.

De facto, logo a abrir, temos um recorrente malabarista da vida política portuguesa, desta feita no trapézio do Ministério dos Negócios Estrangeiros. É ele próprio o Magnífico Professor Freitas do Amaral, ex-Paladino da Democracia Cristã e neófito nas doutrinas das Novas Fronteiras. Além de dotes de malabarista, este artista tem ainda um dom atávico para o contorcionismo. Atesta-o à saciedade a sua carreira, com uma longa caminhada, desde de discípulo de Marcello Caetano a boy de Sócrates! Sempre a bem da Nação.

O Professor Freitas do Amaral sobreviveu a uma larga margem do eleitorado que hoje, por cá não estar, já não se pode indignar com esta performance no Governo Rosa. Este eleitorado, que já descansa em paz, por certo lembraria ao Professor as «lutas» da Direita Portuguesa que ele por ser líder do CDS em parte corporizou. Lembraria por certo o cerco ao Palácio de Cristal e outros desmandos em nome do Socialismo. Passaria também pela evocação da memória da AD de Sá Carneiro... and so on.

Lamentavelmente, como disse, uma percentagem desse largo eleitorado não sobreviveu à voragem do tempo e foi já riscada dos cadernos eleitorais. Todavia, persiste a memória! Este predicado, contudo, parece inexistir no léxico de Freitas do Amaral. Todavia, para quem tem alguma memória e por cá anda, verá como será conduzida a nossa política externa sob a batuta de quem se tem mostrado ostensivamente hostil aos Estado Unidos e à Grã-Bretanha.

O certo é que esta escolha de Sócrates tem um «je ne sais quoi» que soa a liquidação de contas com quem nos últimos tempos parecia apostado em embaraçar a própria família de Direita de onde descende. Como disse ontem, Francisco Van Zeller, o Boss da Indústria Portuguesa, o Professor Freitas do Amaral é a «nódoa negra» deste Governo.

Curiosamente esta promoção do Professor Diogo Freitas do Amaral não me causou particular espanto. O «vira-casaquismo» é já uma longa e vetusta tradição Portuguesa e também Açoriana. Na verdade até tem um hino que remonta aos primeiros anos da Democracia! Nos idos do PREC e quando se sitiavam partidos e pessoas, como por exemplo no celebérrimo episódio do Palácio de Cristal no Porto, havia um despretensioso fadinho do «facho», verdadeiro hino do «vira-casaquismo», cuja letra era esta:

«vira a casaca
tira a gravata
vai no cortejo
canta o solfejo
e diz que vota
mas faz batota

o facho, o facho
saneia o chefe
que o compromete
com toda a calma
e vende a alma

é um machista
não leninista
o facho, o facho

revolucionário
de modo vário
e democrata
de longa data
de punho erguido anda escondido... o facho»

Porventura, os agora Ministros Mário Lino e Isabel Pires de Lima, antigos féis do Marxismo-Leninismo do PCP, terão o oportuno atrevimento provocatório de trautear este fadinho quando se cruzarem com o Professor a caminho do Conselho de Ministros.

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post-scriptum: lamentável é o ruidoso silêncio que causou a ausência de António Vitorino... quando os melhores renegam servir o País é mesmo caso para gritarmos: Merecíamos Políticos Melhores; com indisfarçável sectarismo Açoriano lamento não ver um dos nossos entre os primeiros de Portugal, especialmente numa época em que não faltam Socialistas Açorianos, supostamente ministeriáveis!

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