domingo, maio 8

«WE SHALL NEVER SURRENDER»



Volvidos 60 anos sobre cerca de 60 milhões de mortos estamos hoje longe das trevas da II Guerra Mundial. Entretanto, as efemérides de circunstância nublaram a memória de muitos, envolvendo o esquecimento de outros tantos num manto de ingratidão pelas vidas entregues no altar da liberdade e da democracia contra a crueldade e a tirania.

Num vómito horripilante é hoje moda prestar-se maior atenção à «imolação» de Hitler, registando na data do seu suicídio - 5 de Maio de 1945 - o fim da guerra, como se nesse derradeiro acto de vilania e cobardia existisse uma réstia de moralidade e de humanidade.

Porém, a II Guerra Mundial não terminou no bunker do Fuehrer, mas sim ao primeiro minuto das 23 horas do dia 8 de Maio de 1945, momento em que ocorreu a «capitulação incondicional» do alto comando da Wehrmacht perante os Aliados.

Como hoje sabemos, nessa data as armas calaram-se e naquele momento escrevia-se o epílogo da II Guerra Mundial na Europa. Mas, ironicamente, a derrota do eixo do mal foi apenas parcial, já que daí em diante o Mundo mergulhou na vertigem da Guerra Fria e da opressão comunista.

Para o registo histórico convém não esquecer que precederam a «détente» da Guerra Fria 12 anos de regime nazi na Alemanha. Convém também nunca descuidar que este regime instalou-se após a eleição democrática de Hitler e que, por via deste «monstro», na Europa viveram-se 2.077 dias sangrentos de guerra e, no Mundo, contabilizaram-se 60 milhões de mortos e outros tantos milhões imensuráveis de desalojados e despojados de esperança. No final da II Guerra Mundial, acertadas as contas, a Alemanha não seria uma potência mundial pela força do aço, conforme haviam idealizado os nazis mas, mais tarde, não deixaria de dominar os destinos da Europa com o poder insidioso do timbre dos cifrões.

Finda a II Guerra Mundial as coordenadas do poder geo-político haviam mudado. O Império Britânico estava exangue e em breve perderia a sua jóia da coroa. À França, pátria da «Liberdade-Fraternidade-Igualdade», restava o lustro da francofonia e a distinção conferida por alguns mitos modernos, que daí em diante eram meras lembranças da sua antiga grandeza. As superpotências seriam durante largas décadas os Estados Unidos e a União Soviética... uma cortina de ferro descia sobre a Europa e o Mundo.

Lamentavelmente passados 60 anos sobre o fim da II Guerra Mundial parte deste Mundo e desta Europa, ainda em convulsão, olha com desdém e soberba para qualquer homenagem que se faça aos Aliados, especialmente, aos Britânicos e aos Americanos! Neste branqueamento da história há uma enorme ingratidão, designadamente, para com o povo Americano que, por mais de uma vez ao longo do Sec. XX, desembarcou nas praias desta Europa para a arrancar das mandíbulas da morte à boca do inferno.

Neste último parágrafo ecoam propositadamente as palavras de Winston Churchill que sempre acreditou que o espírito da liberdade nunca claudicaria. Se há tributo que merece a nossa homenagem e reverência é o manifesto que deixou nos primórdios da Guerra quando, em 4 de Junho de 1940, dirigiu-se ao Parlamento Britânico, e aos homens livres do Mundo, literalmente nestes termos contra a crueldade da opressão: «We shall go on to the end, we shall fight in France, we shall fight on the seas and oceans, we shall fight with growing confidence and growing strength in the air, we shall defend our island, whatever the cost may be, we shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills; we shall never surrender!»

Esse espírito é uma flamejante inspiração que nunca se apagará. Deve estar sempre presente, até porque, no coração da Europa os símbolos de um passado de gélida tirania aparecem hoje maquilhados com as roupagens da união e da democracia.

Volvidos 60 anos o mundo contorceu-se em reviravoltas e o poder Soviético, entretanto, desmoronou-se mas, das suas ruínas renasceu uma Alemanha reunificada e Berlim é hoje, novamente, a sede do governo central alemão. Mas, o síndroma do passado ainda resiste simbolicamente, por exemplo, o Parlamento manteve o nome de Bundestag, mas a «casa» que o acolheu manteve a nomenclatura de Reichstag. O chanceler tem a sua residência oficial num edifício de traço pós-moderno, mas muitos dos membros do seu governo comandam as suas hostes em instalações restauradas do Reich! Só a título de curiosidade o Ministro das Finanças tem a sede do seu Ministério no antigo Quartel General da Luftwaffe; por sua vez o Ministro dos Negócios Estrangeiros apropriadamente ficou acantonado no prédio do Reichsbank e até o Senado Alemão, o (Bundesrat), que representa todos os Estados federais, ficou acomodado na antiga Herrenhaus prussiana. Inevitavelmente parece que ao mudar-se novamente de Bona para Berlim, o Parlamento alemão estava retornando ao seu passado.

Efectivamente, por muito que se negue, a actual República Federal Alemã é a herdeira legal do Reich! Por muito que se queira esquecer o Reich não sucumbiu às mãos de uma revolta popular do povo alemão mas sim pela força do sangue dos Aliados. Por muito que custe a uma certa «inteligentzia» Europeia esta, como todos nós, também muito deve aos Americanos, especialmente aqueles que fizeram da Europa o seu último lar e estão entaipados num quartel qualquer de um dos vários cemitérios militares americanos plantados «on foreign soil». Que nunca se esqueça essa gesta e o espírito de homens como Churchill pois o «ovo da serpente» - em qualquer um dos seus «ismos» mutantes - estará sempre entre nós.
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