segunda-feira, junho 13

...O COMPANHEIRO VASCO



«força, força, companheiro Vasco
nós seremos a muralha de aço»...

felizmente esta cantilena de Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo, que também fazem parte do folclore revolucionário, é hoje apenas ferro velho Marxista-Leninista. Vasco Gonçalves (1922 - 2005), ou o «companheiro Vasco» como era louvado nas «manifes» do «verão quente» de 1975, faleceu, no passado dia 11 de Junho, numa burguesa piscina do decadente Algarve! Deixou-nos o Gonçalvismo como referência de um dos períodos mais vermelhos da nossa história, o que é o mesmo que dizer um dos tempos mais negros e sinistros do Portugal de Abril. No legado político deste ex-primeiro ministro não eleito inscrevem-se, designadamente, os saneamentos, os mandados de captura a executar por Otelo Saraiva de Carvalho, as acções de dinamização cultural e, como em tempos afirmou, a repulsa por tudo e todos os que pudessem macular a Revolução com algo de semelhante a uma «democracia política burguesa, dessas vulgares que existiam na Europa».

Infelizmente, essa aventura da «revolução científica», mancomunada com a «revolução anarquista», entremeada com umas pinceladas de Marx, Engels e Lenine, não se quedou pelo mal fadado ano de 1975! Na pesada herança de Vasco Gonçalves contabilizam-se ainda as ocupações da Reforma Agrária e as Nacionalizações que atiraram o País para um atraso económico dificilmente recuperável 20 anos após o projecto de Nacionalizações da Banca e dos Seguros.
Em suma: Vasco Gonçalves fez parte da tribo militar que sob a sigla «Povo-MFA» congeminava a cubanização de Portugal.

Hoje, longe desses tempos, não deixa de ser preocupante o branqueamento da história a propósito da necrologia de um homem de Abril! No caso de Vasco Gonçalves há muito mais do que um indivíduo! Há um esboço de uma ideologia ditatorial que caiu após a sublevação da Direita no Norte de Portugal, o movimento Independentista nos Açores, e a acção luminosa dos Socialistas em Lisboa após o «caso República», no qual, é bom não esquecer, o «companheiro Vasco» e os seus camaradas tinham aplicado, em substituição do lápis azul, o lápis vermelho da censura do PREC. Ora, a ser assim, como efectivamente o demonstra a história, não deixam de ser bizarros os elogios «post mortem», especialmente o de Mário Soares, elevando Vasco Gonçalves ao Olimpo dos defensores da Democracia. Porém, este é apenas mais um exemplo típico do «vira casaquismo» Português com o qual ninguém se indigna. Efectivamente, o nojo de Mário Soares não justifica que o próprio se esqueça das tribos militares, às quais Vasco Gonçalves deu guarida, e das quais se destaca o inesquecível Otelo Saraiva de Carvalho, que em tempos anunciava que para a Revolução prosseguir necessário seria acantonar a reacção, na Praça de Touros de Campo Pequeno, para que fossem todos «passados» à metralhadora!

Estes e outros desmandos ignóbeis são hoje convenientemente esquecidos no momento do epitáfio fúnebre, para o qual os jornais apenas convocam os companheiros de luta! Nestes por certo ainda ecoam as palavras do Generalíssimo Vasco Gonçalves, «humanista e democrata», quando no celebérrimo Discurso de Almada se despediu do palco da política vociferando: «Só o Socialismo, o autêntico, dará a cada um de nós o pão e as rosas, o sustento e o saber». Entretanto, Vasco Gonçalves despediu-se da vida numa piscina Algarvia, gozando de uma tolerância que ele próprio e os seus camaradas não ambicionavam para Portugal! Porém, no requiem pelo seu projecto juntaram-se coros de encómios que só me fazem lembrar as palavras de Jim Morrison quando sabiamente vaticinava: «death makes angels of us all»!
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JNAS na Edição de 14 de Junho do Jornal dos Açores.

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