domingo, julho 3

I DO NOT LIKE MONDAYS



Enquanto fazia o bife de lagarto para a Maria da Luz, que é uma boca fina e franze o sobrolho à vazia, ia espreitando pelo canto do olho a transmissão do Live Aid. O dueto do Bono com o Paul McCartney foi agradável, mas não chegou aos calcanhares daquele que, há vinte anos atrás, a Tina Turner e o Mick Jagger protagonizaram juntos no estádio de Wembley, entretanto demolido. O mundo mudou, dizem-me. Diz-se muito disparate. Basta lembrar aquele soundbyte do Mr. Fukuyama anunciando o Fim da História. Basta lembrar o Band Aid trust de há vinte anos atrás, quando o mundo acordou estremunhado para a fome em África. Hoje, em vésperas da cimeira dos G8 em Edimburgo, a chaga africana está ainda mais purulenta. O mundo mudou? Sim, claro, de G7 para G8. Os pivots da emissão na RTP1 comentavam, perspicazes, que as vedetas em palco, sobretudo aquelas que marcaram presença nos concertos de Londres e Filadélfia em 1985, estavam com mais uns quilitos em cima. O mundo mudou, não há dúvida.

Já estava a pensar ir regar as plantas lá para fora quando foi anunciado em Hyde Park a subida dos Boomtown Rats ao palco. Ouvir o Bob Geldof a interpretar I don't like Mondays fez-me sentar na cadeira de novo. Os cretinos da televisão ficaram entupidos. O Geldof permanece magro e, por acaso, até é o promotor da iniciativa. A seguir veio a Annie Lenox, sem os Eurythmics, porque mais vale sozinha do que mal acompanhada. Também ela continua na mesma, deve ser magra de feitio. Há muito, muito tempo, fiquei apaixonado pela mulher num Festival de Jazz de Montreux e hoje, ao ver aquela espiga de trigo sentada ao piano, percebi que o Shakespeare tinha imensa razão: Who ever loved, that loved not at first sight?. Levantei-me do sofá e vim para o computador assinar a petição do Bob Geldof que será entregue aos líderes do G8 na próxima quarta feira, acho eu. Talvez o Tony Blair consiga persuadir o Bush de que afinal, feitas bem as contas, ficar sentado também pode ser uma forma de terrorismo.

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