quinta-feira, setembro 15

GERAÇÃO DE 70, #1



EASY RIDER (1969)

Foi no Império, ou no Monumental? Porque é que os cinemas antigamente tinham nomes tão grandiloquentes? Pensando melhor, acho que foi no Monumental, porque lembro-me bem da Harley Davidson do Peter Fonda a abrir pelo ecrã de 70 mm acima. E ecrãs daqueles, na Lisboa da altura, só mesmo à Praça do Saldanha. Ter visto o Easy Rider quando era adolescente e ainda estava à mercê das "más influências", não me tornou um homem diferente, acho eu, mas fiquei pregado à plateia até ao fim do genérico e jamais esquecerei os acordes daquela canção dos Steppenwolf, Born to be wild, que nos fazia crescer asas no corpo e formigueiro na palma das mãos.

Nunca fui um rapaz muito dado a motorizações, pelo que a ideia de ir de burra desde a Califórnia até ao Louisina e, Deus me livre, ter de atravessar o Arizona vestido de cabedal, não faz lá muito o meu género, mas o Easy Rider deixou-me uma coisa tatuada na pele: visitar New Orleans.

Hoje, ao ver a cidade inundada, toda ela terra sem vida no quadriculado da sua malha urbana, veio-me à memória aquela cena em que o Dennis Hopper e o Peter Fonda vão parar a um cemitério de New Orleans durante os festejos do Mardi Gras. Ao contrário do título, o Easy Rider é um filme duro que confronta aquilo que há de yankee na América com o Sul profundo das novelas de Erskine Caldwell. George W. devia alugá-lo na loja de vídeo mais próxima.

Bom, não vou para aqui entrar em políticas e quero apenas reiterar o meu desejo de visitar um dia New Orleans, embora receie que os tipos acabem por transformar o French Quarter numa Disneyland. Mete-me imensa confusão ver a capital do hedonismo americano reformatada em theme park. Se for esse o caso, não compro bilhete. Entretanto fico à espera de que, com diz o moto Cajun da cidade, laissez les bons temps rouler.

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