terça-feira, setembro 27

TODOS NÓS MERECEMOS POLÍTICOS MELHORES

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Sinal dos tempos é o facto de que a arena política está hoje longe de ser um «gentlemens affair» sob as regras do mais elementar «fair play». Porém, não é menos verdade que um pouco de «sal e pimenta» é quanto basta para dissipar a letargia que tomou conta do debate político. Todavia, nesta campanha Autárquica há um inusitado azedume do partido da rosa que tem tolhido até os seus espíritos pretensamente mais iluminados, sendo disso mesmo um triste exemplo o deplorável episódio da recusa do candidato Socialista ao maior Município Português em saudar o seu contendor no final do celebérrimo combate «Carrilho Versus Carmona» que, como se sabe, foi patrocinado pela SIC-Notícias.

Quanto à campanha por Ponta Delgada quem ouviu o debate na TSF-Rádio Açores, e viu igual espectáculo na RTP-Açores, no ranking das respectivas performances não deixará de colocar na linha da frente Berta Cabral, estando mais do que justificada porque razão ocupa a respectiva pole position nesta corrida Autárquica.

A candidata do PSD evidenciou consistência nos argumentos, pleno e transversal conhecimento dos «dossiers», teve uma performance cordata e, apesar de inúmeras e indelicadas interrupções, soube manter uma «calma Olímpica». Em segundo lugar nesta ronda de debates ficou Aníbal Pires, o candidato da CDU, que surpreendeu pela positiva, aparecendo com um discurso integrado, sólido e com uma imagem de marca que é capaz de captar a respectiva franja eleitoral. Zuraida Soares, do Bloco de Esquerda, ainda ocupou honrosamente o terceiro lugar do podium, embora misteriosamente lhe falte muito do fulgor de outrora. Quanto ao candidato do Partido Socialista manteve um permanente tom de acrimónia, porventura, em homenagem ao líder do seu Partido, ao qual juntou um discurso desarticulado na apresentação do seu projecto que, já se percebeu, reduz-se a transformar a Câmara Municipal numa espécie de Departamento do Governo Regional. Em último lugar ficou Leonardo Ponte, o que se percebe quando no debate da TSF-Rádio Açores e logo a abrir, o candidato do CDS-PP, disse que não era candidato!

Mas, é o tom agastado da candidatura do Partido Socialista à Câmara Municipal de Ponta Delgada que tem marcado toda a sua «entourage», passando a dita crispação para os «tempos de antena» da respectiva campanha. Se essa é uma opção legítima, não deixa de ser menos verdade que a animosidade visceral, de velhos e novos Socialistas, à personalidade e obra de Berta Cabral, pelas razões óbvias que todos conhecemos e percepcionamos, tem conduzido a uma via de infelizes insinuações e graves afirmações.

Assim, como não bastava à candidatura do Partido Socialista acusar a Câmara Municipal de Ponta Delgada de «Salazarista»(!), embrulhando esta fantasiosa aleivosia na argumentação de que a actual gestão camarária acolhe a «direita mais conservadora e retrógrada», atreveram-se impunemente a lançar o libelo grave de que há «meios da Câmara que estão a promover a campanha e o programa ANIMA financia o PSD.». Todavia, é esta mesma candidatura que tem ao seu serviço a «nomenklatura» do Governo Regional que despudoradamente prestou a garantia ao candidato do Partido Socialista, caso ganhe as eleições, de ceder ao Município um terreno com cerca de 50.000 m2 a Norte do Hospital do Divino Espírito Santo, para a construção da «Garagem-InterModal»! Esta garantia prestada publicamente é uma clara instrumentalização do património Regional ao serviço de um interesse partidário, indicia uma negociata eleitoral, e desmascara a propaganda do trato igualitário que o Governo Regional sempre disse ter para com todas as Autarquias. Depois de 9 de Outubro, em benefício de todos os cidadãos de Ponta Delgada, esperamos igual disponibilidade patrimonial e institucional do Governo para dar resposta às necessidades deste Concelho.

Neste rol de incongruências a candidatura do Partido Socialista à Câmara Municipal de Ponta Delgada tem a legítima inabilidade de questionar projectos importantes para o futuro da cidade, como por exemplo a «Central de Camionagem», articulando um arrazoado de interrogações que incluem a respectiva utilidade, viabilidade técnica e correlativa segurança, impacto no tráfego rodoviário da cidade, inserção ambiental, e finalmente, a pergunta dos milhões: quanto custará ao erário público?

Curiosamente, estas mesmas vozes que agora se arvoram em paladinos da contenção da despesa pública, entre outras veneráveis públicas virtudes, nunca cuidaram de articular as mesmas perguntas, designadamente, em relação às «Portas do Mar», cujo secretismo do projecto do Governo Regional foi censurado até pela bancada do Partido Socialista na Assembleia Municipal! Porque razão estas mesmas vozes não questionam publicamente o custo e o impacto futuro das SCUT?s que, segundo dados governamentais, irão consumir «quatro por cento do investimento público anual durante 25 anos»?

Esse debate não lhes importa, mas importaria a todos nós para a credibilização da política, já que todos nós merecemos políticos melhores...mesmo quando estes estão na oposição.

JNAS na Edição de amanhã do Jornal dos Açores

(como sempre a coluna de opinião é aqui replicada no blog para o habitual contraditório, os costumeiros impropérios e um ou outro encómio que salva o dia)

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