segunda-feira, dezembro 19

MUDAR DE VIDA

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O PSD Açores não sendo um partido de pensamento único realizou a sua catarse colectiva no XVI Congresso Regional. Nada de novo emergiu deste Congresso, ficando contudo confirmada a suspeita de que a decomposição do Partido nos últimos tempos decorre de silêncios ambíguos, medos irracionais, e negligentes ou dolosas fugas de informação. No domínio dos silentes entraram agora Victor Cruz e Mota Amaral. Sem discutir a bondade das razões políticas e pessoais, não deixa de causar assomo o silêncio de Victor Cruz quanto aos fundamentos e motivação da sua mais recente demissão. As bases do partido mereciam uma justificação e um agradecimento pelo apoio que lhe prestaram enquanto foi líder. Não duvido que um dia mais tarde este voto de silêncio se irá quebrar. Contudo, até ao dia em que a verdade seja revelada, a especulação irá pairar sob o partido como uma nuvem tóxica e asfixiante.

Também o Dr.º Mota Amaral se remeteu ao reino dos silentes após a exumação extemporânea do caso Pró-Pico pela mão de Américo Natalino Viveiros. Será que este não resistiu a uma «vendeta» política ou, ao invés, terá aproveitado a ocasião para fazer um ajuste de contas com um passado que já perdeu o prazo de validade em 1995 ? Nunca o saberemos enquanto o Dr.º Mota Amaral permanecer recluso do seu silêncio. Ademais, a curiosidade é acicatada quando entre o rol de apoiantes de Américo Natalino Viveiros está uma facção da fina-flor dos últimos dias do Mota Amaralismo. Derrotados neste Congresso já indiciaram que a gestão dos silêncios e dos tabus será a arma secreta com a qual vão conduzir esta «détende» de hostilidades até ao próximo Congresso.

Contudo, não é tempo de fazer a arqueologia do PSD-Açores, mas sim tempo de encerrar um volume da sua história, procurando descobrir uma passagem que o liberte das águas tormentosas por onde tem navegado. Costa Neves, como se sabe, assumiu o leme dessa nau e prometeu que as vozes dissonantes não seriam tidas como prenúncios de motim. Espera-se que saiba honrar essa lógica de inclusão de todos numa gestão participativa, dialogante e genuinamente crítica. Sem silêncios cúmplices de falsos consensos. Para tal deve contar simultaneamente com o PSD-Açores que não quis um regresso ao passado, bem como com aquele PSD-Açores que reclama justamente o regresso do partido ao convívio com as bases. Espera-se pois, a curto prazo, que Carlos Costa Neves honre a promessa de regulamentar o processo da eleição directa do líder. Do líder também se espera que saiba executar a vontade democrática e maioritária que seja referendada pelos militantes de base.

A curto prazo o PSD-Açores carece de uma reforma interna que saiba com elegância e credibilidade exprimir uma imagem de unidade na diversidade. É tempo de estancar as fugas de informação que nos tempos recentes têm soprado a vida interna do PSD-Açores para as páginas dos jornais. Sempre ardilosamente reveladas pelos embuçados que se escondem no conforto da protecção que lhes confere o estatuto de «fontes fidedignas». Não há como elevar o moral da militância quando esta vem a saber da vida interna do Partido devassada perante os órgãos de comunicação social. A corroborar o que se diz basta recordar o que neste mesmo Jornal se leu pela boca das ditas «fontes fidedignas» após as eleições de 9 de Outubro.

Faço votos que o novo líder do meu Partido saiba por um ponto final nestes episódios de rasteira deslealdade e que têm sido um brinde para o escárnio com que o Partido Socialista olha para o maior partido da oposição. Nessa linha satírica o PS veio recentemente afirmar-se expectante com a nova liderança do PSD-Açores, dado que o processo de revisão do Estatuto Político Administrativo dos Açores tinha ficado bloqueado com a crise interna do PSD. Só faltou ironizar dizendo que Carlos César tinha tido tão acolhedora recepção na sede do PSD-Açores que ficara com saudades de lá voltar!

Só o futuro dirá se este novo líder será capaz de traçar novas rotas que nos livrem dos escolhos que nos têm ameaçado. A seu favor tem à partida um inegável sentido de humor que denota inteligência a somar a uma qualidade básica: lealdade ao PSD-Açores.

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Post-Scriptum: Esta coluna vai de férias até ao próximo dia 10 de Janeiro de 2006. Grato aos leitores que por aqui passam, a todos desejo um Santo Natal, e em tempos de crise, um redobrado voto de próspero Ano Novo.

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João Nuno Almeida e Sousa / Na Edição de 20 de Dezembro do Jornal dos Açores

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