quinta-feira, agosto 2

Férias cá dentro

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Tem para mais de uma década a propaganda que se resumiu no slogan "Vá para fora cá dentro". Lançada pelo ICEP, por via do Ministério da Economia e Inovação, apresentava aos portugueses destinos paradisíacos, não de um Shangri-La exótico e inacessível, mas do comezinho e utilitário turismo feito por casa. À margem do postal "nacionalista" de férias, em estilo de volta a Portugal, creio que os criativos da ideia de viagens na minha terra não tiveram presente a descontinuidade geográfica do nosso território. Com efeito, para um ilhéu o slogan soa a viagens na terra deles e circunscritas ao Continente Português. Na realidade, como todos sabemos, não é cómodo nem é barato fazer férias por terras de Portugal Continental, porquanto, na "portagem" do "vá para fora" que se paga à SATA/TAP fica parte substancial da quota de férias! Perante esta imposição monopolista não são poucos os Açorianos a ponderar a possibilidade de férias na sua própria terra. Contudo, também aqui o "vá para fora cá dentro" soa a publicidade enganosa pois inter-ilhas o custo destas férias é igualmente elevado.
Vejamos. A partir de Ponta Delgada, e na "classe económica SP" da SATA, Santa Maria ronda os € 106 por passageiro, uma ida e volta à Terceira fica por € 174, o mesmo que um saltinho ao Pico ou às Flores! Com preços destes, aos quais acrescem custos faraónicos de alojamento, alimentação e rent-a-car, não espanta que quem afinal faz férias por cá seja, no geral, o proletariado escandinavo e alguns regressantes endinheirados.
Resta a alternativa marítima que francamente publicita cobrar metade do tarifário da SATA sob o lema "Viaje por menos com a Atlânticoline". Contudo, as vicissitudes do passado recente da companhia ainda afectam a propalada imagem de marca que pretende vender "factores de regularidade, continuidade e qualidade." Na verdade, no que toca a serem cidadãos do mundo e viajantes os Açorianos ainda serão por tempo indeterminado cidadãos de segunda ou mera carga em trânsito. No fim sempre resta a literal possibilidade de ir para fora dentro da própria ilha, por exemplo, indo às Furnas pelo Norte e regressando a casa pelo Sul ou vice-versa.
Seja como for ao leitor que teve a indulgência de ler esta e as demais crónicas digitais que aqui fui publicando faço votos de boas e merecidas Férias. Esta coluna também encerra para Férias, cá dentro, regressando em Setembro.
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