sexta-feira, janeiro 11

Top of the Pops



Os assessores políticos de Obama, confiados na ciência das sondagens, escolheram o Signed, Sealed, Delivered para a entrada em palco do Barack na passada noite de terça feira em Nashua, New Hampshire. Ainda hoje estou para perceber porque é que não dispensaram esse adorno face aos resultados. Soou a presunção e água benta, para mais fora de compasso. Nos Estados Unidos os political junkies dão tanta importância ao soundtrack como a Maquiavel, escrutinando as mensagens subliminares da música que acompanha a stage entrance dos gladiadores. Ora, o Signed, Sealed, Delivered, uma composição do Stevie Wonder (1970) com mais covers do que o número de pares de sapatos da Imelda Marcos, era a confissão assumida de que contavam com o ovo no cu da galinha. Foi justamente por isso que muitos simpatizantes do Obama no New Hampshire, à última da hora, votaram na Hillary. E fizeram muito bem, prestando-lhe assim excelente aviso. O Barack só tem a ganhar com o facto da Hillary passar de novo a ser uma espécie de Presidente inevitável. A dinastia Clinton aprendeu a lição do Iowa, Obama pode e deve aprender a lição do New Hampshire. Há muitos meses atrás dediquei um Cherchez la Femme à Hillary Clinton no qual dizia, pouco mais ou menos, que o Barack Obama se limitaria a mostrar a sua classe, como aqueles jovens talentos futebolísticos que passam pelo torneio de Toulon. Hoje já não penso assim e acho que ele corre sérios riscos de conseguir a nomeação do partido Democrata. Se tal acontecer e o seu adversário Republicano não for o John McCain (ou o Michael Bloomberg não resolver entrar na corrida como independente), Barack Obama poderá vir a fazer História sentando-se na Casa Branca. Se dependesse de mim, o número não sei quantos da Pensylvania Ave. já o tinha lá como próximo inquilino. E agradou-me bastante que o senador John Forbes Kerry, um símbolo vivo do wasp country, tenha hoje anunciado o seu endorsment ao Barack Obama. Por alguma razão Kerry, quando em 2004 foi candidato Democrata à Presidência, escolheu Obama para fazer o keynote speach na Convenção Democrata de Boston, onde o jovem político do Illinois se mostrou pela primeira vez ao mundo. Como dizia a frase de Martin Luther King que vi pintada numa escola primária de Cambridge St., junto à Igreja portuguesa de Santo António: “The arch of History is long, but it bends towards justice”.

Post Scriptum – o original do Stevie Wonder é bem melhor que a cover da Cher, mas a qualidade gráfica da senhora neste vídeo de 1983 nem me fez pensar duas vezes.

Sem comentários: