quinta-feira, julho 31

Pelo Amor de Deus *

Incompreensível e bizarra a forma encontrada por Cavaco Silva para se dirigir à nação no que concerne ao Estatuto Político-Administrativo dos Açores (um assunto denso e estranho para a maioria da população portuguesa/açoriana). Pois, segundo o próprio, «Se não considerasse que estava perante um precedente muito grave para o equilíbrio dos poderes entre os órgãos de soberania não teria falado aos portugueses». Isto não é Silly não senhor, é mesmo um caso muito Sério! Aguardemos serenamente as cenas dos próximos episódios...

* Luis Delgado em discurso directo à Antena 1 após declaração do PR
+ Aqui a opinião sensata de Mário Bettencourt Resendes

terça-feira, julho 29

Congrats!!



Nunca sei muito bem o que se deve dizer a quem casa. Sinto que "os noivos" não esperam propriamente que lhes digam algo que os iluminará para todo o sempre. Por isso, e porque não queria deixar de assinalar a minha satisfação com o acto, dou a palavra aos casais que Rob Reiner escolheu para abrir um dos filmes da minha vida. Mesmo que pareça ridiculamente piegas, acredito em tudo o que eles dizem e, sobretudo, em tudo o que eles sentem quando o dizem. Que sejam tão felizes quanto merecem, meus caros!

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provavelmente um dos melhores discos da temporada. Uma sugestão sempre sapiente do camarada, e agora putativo deputado da rosa, Alexandre Pascoal. Um excelente disco recheado de memória e vanguardismo. Para espreitar em pré-escuta aqui. Uma delícia para degustar nos dias de canícula. Se Tarantino estiver à escuta ainda arregimenta esta malta para o seu próximo trash-movie.

Desculpe, importa-se de repetir?!

«É muito mais habitual ver governos que duram 4 anos do que 12 anos. Aliás, não conheço na Europa governos com 12 anos»
Carlos Costa Neves em entrevista hoje ao AO. E a Madeira pertence a quê?! África?! Para alguém que pretende "libertar energia" parece-me algo "desligado"...

domingo, julho 27

Literatura de Férias


Dando seguimento a uma saudável tradição de férias - outras terei que não serão assim tão saudáveis - fui à livraria e comprei de empreitada as leituras para os próximos 12 dias. Espero que não vão fazer companhia àquelas que ficaram por fazer em anos anteriores.


1.º - Os Portugueses no Faroeste - Terra a Perder de Vista, de Donald Warrin e Geoffrey Gomes, Bertrand


"O que este Os Portugueses no Faroeste nos oferece é precisamente uma leitura dessa história através do que de mais fascinante as histórias sempre comportam: as biografias daqueles que, com coragem ou cobardia, por acção ou apenas sorte, as promoveram. Alguns, como «Portuguese Phillips», o homem que salvou da morte uma guarnição militar na fronteira do Wyoming, permaneceram até hoje no imaginário americano como heróis; a outros, como Manuel S. Brazil, o homem que terá participado na denúncia de Billy the Kid, resta o papel de vilões - e de outros ainda, como John Enos, um dos maiores rancheiros do estado de Washington, já não restava mais do que uma história vaga, felizmente aqui recuperada pelos autores deste livro."
do prefácio de Joel Neto


2.º - Low Cost - O Fim da Classe Média, de Massimo Gaggi e Edoardo Narduzzi, Teorema
Dedico particularmente ao João Nuno e ao respectivo líder partidário.


3.º - Irmãos - A História Oculta dos Anos Kennedy, de David Talbolt, Casa das Letras
Um livro do fundador da Salon.com e e director da Mother Jones merecia ser comprado, nem que fosse sobre o míldio e as suas consequências no fruto da videira. Felizmente, é sobre os Kennedy e a pouco conhecida investigação de Bobby ao assassinato do irmão John.


NOTA: E romances?, perguntou a minha veia ficcional. Pois bem, ando pouco dado a personagens que nunca viveram.

TM

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Telma Monteiro é uma diva do tatami. Uma referência do desporto Nacional cujo desempenho é um regalo para quem acredita que Judo é muito mais do que um desporto. + logo na série Campeões, na RTP 2 , pelas 21 horas podemos ir ao tapete com a Telma.
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Telma Monteiro
Idade: 22 anos.
Segunda participação olímpica.
Modalidade: Judo – Categoria – 52 Kg.
Momento chave em Pequim: Dia 10 de Agosto, a partir das 05 horas.
A mais jovem de todos os candidatos portugueses às medalhas olímpicas é conhecida por ser uma lutadora. Duas vezes campeã da Europa e vice-campeã Mundial, a maior figura do judo nacional já assumiu que, em Pequim, só um resultado lhe interessa. Tudo o que seja pior que um lugar no pódio é inaceitável. Está tudo dito! Telma Monteiro é a melhor judoca portuguesa da actualidade. O facto de ser a judoca número um do ranking mundial, coloca-a num patamar difícil de alcançar. O seu percurso vitorioso começou em 2002, ano em que venceu o campeonato nacional de juniores. A partir daqui nunca mais parou de alcançar resultados brilhantes em competições nacionais e internacionais.

HH



Para que não hajam dúvidas, e antes do anúncio de outro evento único, o auto-denominado concerto do ano acontece a 5 de Outubro em Angra.

sábado, julho 26

CineClube



The Dark Knight - O Cavaleiro das Trevas «Podemos ser hereges? Obrigado. Aqui vai então: estão a ver o "Batman" de Tim Burton? Atirem-no para um canto. A partir de agora, "O Cavaleiro das Trevas" é a encenação cinematográfica definitiva do Homem-Morcego. E tudo isto sem negar o que ficou para trás - afinal, dificilmente Christopher Nolan poderia ir tão fundo como vai na escuridão de Batman sem o que Burton visualizou em "Batman" (1989) e "Batman Regressa" (1992)», Jorge Mourinha no CineCartaz. O tira-teimas na Sala 1 da Castello Lopes.



We Own the Night - Nós Controlamos a Noite «O terceiro filme de James Gray («Little Odessa», «Nas Teias da Corrupção»), passado nos anos 80 em Nova Iorque, é mais uma história de mafias de Leste e de lealdades divididas (Joaquin Phoenix é o gerente de uma discoteca suspeita, Mark Whalberg e Robert Duvall, o irmão e o pai, são polícias). Gray anda desde o primeiro filme, «Little Odessa», a tentar ser reconhecido como o "novo Coppola" ou o "novo Scorsese", mas ainda não convenceu ninguém. Nem Phoenix e Wahlberg nos convencem de que são irmãos», Eurico de Barros em Cinema 2000. Para comprovar na Sala 1 do Solmar.

...Eu hoje deitei-me assim

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Com um virtuoso concerto dos Roxy Music, ao vivo no Hammersmith Apollo, no canal 2 da RTP...isto sim é serviço público

sexta-feira, julho 25

Reporter X

Click *

Por iniciativa da Fundação Luso-Americana e do Governo dos Açores realizou-se em Ponta Delgada, no Teatro Micaelense, o I Fórum Açoriano Franklin D. Roosevelt. O ambicioso programa reuniu, durante os dias 16, 17 e 18 de Julho, um conjunto de ilustres figuras do panorama nacional e norte-americano que versaram sobre as mais díspares temáticas, posicionando os Açores na plataforma das reflexões sobre relações internacionais e estratégicas, por intermédio desta iniciativa, que pretende ser bienal e ter as ilhas de São Miguel, Faial e Terceira como palco.

Tal como referiu Carlos G. Riley, num post no :ILHAS (de 17.07.08), “sob o signo de Roosevelt (…) começou ontem a exorcizar-se nas ilhas de bruma a ladainha da ultraperiferia (…)”, referindo-se, nomeadamente, à comunicação de António José Telo, na qual também senti o click que referiu o Carlos ao parafrasear o historiador e director do Instituto de Defesa Nacional.

O Mundo em 2008 não é o mesmo de 2007. As condições de segurança, tal como as conhecíamos, têm vindo a ser substancialmente alteradas e o paradigma clássico do “inimigo” é actualmente um conceito abstracto e sem rosto. A bipolarização em confronto durante a guerra fria ruiu como o muro de Berlim e com isso deixou de existir um eixo de influência – daí resultando a referência a um “mundo apolar”.

Existem no mundo inúmeras potências, mas nenhuma delas consegue actualmente a hegemonia de outrora. Franklin Delano Roosevelt era um visionário, um homem que esteve para além do seu tempo, tendo delineado o conceito que levou à formação das Nações Unidas, da qual pensou tornar-se Secretário-Geral. Nos seus planos incluía o sonho de transferir a sede de Genebra - onde tinha funcionado a Sociedade das Nações - para Nova Iorque e para a cidade da Horta, afirmando que os Açores seriam um local óbvio para o encontro de projectos transatlânticos. O plano, infelizmente, não veio a concretizar-se, mas não deixa de ser um episódio curioso, em que se revela a centralidade dos Açores no domínio das relações transatlânticas, sendo que, para além da questão geográfica, lhe estão subjacentes condições e circunstâncias específicas que definem “per se” a importância vital do local, estando muito para além da sua mera localização no espaço.

Esta foi, sem margem para dúvida, uma iniciativa de enorme importância e que se espera que, em próximas edições, venha a ser mais alargada e participada pela sociedade civil, dando ainda mais ênfase ao relevo e importância deste denominado “porto de abrigo” a meio do Atlântico, para a discussão aprofundada sobre a parceria Euro-Americana no confronto com os principais desafios globais desta época de alterações abruptas à realidade que nos assiste.



* edição de 22/07/08 do AO
** Email Reporter X
*** Imagem X I Fórum Açoriano Franklin D. Roosevelt

"Tou menente"

(Que César te ilumine camarada Alexandre)
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quinta-feira, julho 24

Summer Tape #1



Os KoC tocaram hoje no Cool Jazz Fest. O novo disco já tarda mas parece que está para breve. Na mala de discos para as férias...

Veni Criator Spiritus

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A esperança no advento de uma Era de Igualdade, Partilha e Solidariedade é uma das marcas do culto do Divino Espírito Santo. Esse ideal é, por exemplo, celebrizado no momento das sopas do Espírito Santo e é essa Grande Festa Comunitária que começando por unir os homens à divindade une igualmente os homens entre si ! Traço identitário do "Povo Açoriano" o culto do Divino Espírito Santo faz parte da cartografia da nossa gente pelos quatro cantos do mundo. Esta tradição está intrincada na nossa identidade e nas nossas tradições. As tradições evoluem, refinam-se, e com o normal ciclo da vida vão integrando os parâmetros civilizacionais do seu tempo.
Paradoxalmente, os detractores desta tradição têm cristalizado o seu desdém em argumentos recorrentes a que limpam o bolor todos os anos em veneração a outros altares. A utopia espiritual que é hoje celebrada pelos Açorianos, sob a bandeira do Divino Espírito Santo, é também a matriz da nossa alma. Em São Miguel, como todos sabemos, este culto está profundamente enraizado nas nossas tradições. Consequentemente, foi na evolução dessa tradição que em Ponta Delgada o Município retomou a celebração popular das Grandes Festas do Divino Espírito Santo. A elevada e crescente participação popular é sinal vivo de que esta é de facto uma tradição que, não só merece o alento popular, como todos os anos se renova com reforçado fulgor. Só por despeito se poderá negar que assim seja fazendo das Grandes Festas do Divino Espírito Santo em Ponta Delgada um evento alimentado por uma tradição artificial.
Que não lhes agrade a tradição a que se referem como "espectáculo" é convicção que se respeita, mesmo quando lhes falece a razão. Negar a tradição das festividades em causa já roça a inaceitável desonestidade intelectual, que só se compreende como tique daquela arrogância típica de quem desmerece, com soberba, toda e qualquer tradição que não esteja em sintonia com os "santos" da Nova Autonomia. As actuais festas do DES de Ponta Delgada fazem a ponte com a 1ª grande coroação do Divino Espírito Santo no ano de 1976, ocorrida em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, com vasta participação popular e até delegações das ilhas de Santa Maria e do Corvo! Como ainda há, nestas e noutras coisas, quem queira ver para crer vale-nos o acervo de memórias fotográficas tombadas no livro "Recordando as Grandes Festas do Divino Espírito Santo" de Humberto Moniz. Nelas passeiam tranquilamente as memórias de uma tradição popular de genuína devoção ao Divino. Nelas bem poderia ser aposta a memória da legenda de Natália Correia, contemporânea e vivente das festas cuja tradição se honra, exortando a que "sejamos tranquilamente amantes das coisas divinas, sem o que a vida é o heroísmo reles de um aborrecimento". Com tranquilidade: Veni Criator Spiritus. É tudo quanto se pode desejar como acto de fé que ilumine aqueles que negam a tradição do povo que dizem servir.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com
(aos leitores habituais fica o aviso que vou a banhos e regresso em Setembro às crónicas digitais)

quarta-feira, julho 23

Agente Provocador



O AGENTE PROVOCADOR convida Hugo Santos um dos organizadores do Green Trippin Camp para um hora de conversa sobre este e outros festivais. A 2ª hora é feita de sugestões de música e lazer para o verão. Para ouvir depois das 22h10.

Os Açores daqui a 20 Anos *


"A um mundo que nos é apresentado, frequentes vezes, como um duelo entre uma globalização imparável e caquécticos Estados-nação, a introdução de uma terceira personagem ajudará a tornar a peça menos monótona e previsível. Essa terceira personagem, o regionalismo, surgiu em meados do séc. XIX como resposta à periferia de certos países europeus à excessiva centralização estatal." (José Mapril, in A Globalização no Divã)
Numa época em que as questões energéticas determinam muitas das opções do futuro que se quer para o planeta, esta matéria será, garantidamente, um dos maiores desafios com que os Açores vão ter de se confrontar no futuro mais próximo. Isto na medida em que dependemos sobremaneira daquilo que importamos e pelo facto de estarmos cativos dos transportes marítimos e aéreos, factor determinante e inerente à nossa mobilidade inter-ilhas e com o exterior, com implicações profundas no tecido económico insular. Não obstantes os constrangimentos intrínsecos a um território acidentado e descontinuado tem havido um claro esforço no sentido de se diminuírem os custos energéticos através do investimento no sector das energias renováveis, com um particular enfoque na ampliação e no fortalecimento da energia geotérmica, de elevado potencial. Contudo, a tecnologia ainda não nos permite a sua melhor rentabilização, sendo que parte da energia produzida não é consumida e é simplesmente desperdiçada. Este será um campo decisivo para o desenvolvimento das ilhas, com vista a garantirmos ao máximo uma maior "independência" energética e que, com isso, se permita o desvio de recursos fundamentais para áreas carenciadas.

Nessa medida, os Açores necessitam de um investimento continuado na educação/cultura, de modo a obviar às inúmeras carências sociais que ainda existem e ultrapassar o gap cultural das suas populações. Tal como no País, nos Açores vivemos a duas ou mais velocidades, quer de ilha para ilha, quer mesmo no interior da mesma ilha. Isto apesar do imperativo autonómico que nos assiste na busca incessante pelo chamado desenvolvimento harmónico, algo que em si é utópico, na simples acepção de que as idiossincrasias de cada ilha não possibilitam o crescimento idêntico para cada uma delas, ao contrário do que muitos defendem. Temos, isso sim, que melhorar os serviços inerentes a cada lugar, não esquecendo a realidade específica de cada um deles. Daí que um crescimento por igual poderá conter elementos perniciosos e induzir falsas expectativas, anulando uma diferenciação positiva que se impõe, por intermédio da introdução de práticas e modelos desajustados. Será primordial, nos anos que se avizinham, um maior empenho institucional entre governo, autarquias e privados, na coordenação e concertação de estratégias de desenvolvimento local, com vista a uma melhor rentabilização dos fundos disponíveis. O investimento futuro deverá promover a sustentabilidade ambiental e para isso é necessário o empenho de todos na concretização do equilíbrio que queremos. Mas, para alcançarmos esses objectivos, é fundamental o combate aos factores de exclusão, que atingem parte da população insular, sobretudo, com a melhoria das condições de vida e dos rendimentos. Um desafio que se impõe.

Mais que tudo, e para que tudo isto se possa um dia concretizar, é fundamental que não se confirmem as piores previsões apontadas por Al Gore na sua Verdade Inconveniente e que o Homem seja capaz de ultrapassar e de suprimir os efeitos nefastos que inflige ao Planeta, pois, a não existirem melhorias, será difícil vislumbrar um futuro risonho para toda a humanidade.

Apesar disso, ainda há quem ache que toda a deriva ecologista em torno do aquecimento global é um devaneio. Como contraponto, Al Gore cita o famoso aforismo de Mark Twain: "Não é o que não sabemos que nos cria problemas, é aquilo de que temos a certeza e que afinal não é assim". A única certeza que tenho para os próximos 20 anos é a de que os Açores não estão imunes a esta inconstância global.


* Artigo publicado na edição especial do Semanário Expresso das Nove de 18.07.08
Un musicien sous la pluie, 1957 | Robert Doisneau


Chegou a minha vez de vos dar música.
Como sou fraco em línguas estrangeiras aqui fica uma playlist de jazz tocado em português...

Take it Easy

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"A easyJet vai começar a operar a tão desejada rota para o Funchal já a partir de Outubro com dois voos diários desde o aeroporto da Portela em Lisboa, aproveitando a liberalização do mercado entre a região e o Continente.A companhia refere que a Madeira quadruplicará a quantidade de portugueses que visitarão a ilha a partir do momento em que a easyJet começar a operar naquela rota. A oferta da easyJet será a partir de 25,99 euros por trajecto com taxas incluídas, ou seja 51,98 euros ida e volta. Os estudantes e residentes na Madeira poderão passar a viajar ao Continente por um valor quatro vezes inferior àquele que é presentemente praticado por outras companhias, nesta rota. Beatriz Fernandez, directora de marketing da easyJet para Portugal e Espanha comentou que a companhia está "muito entusiasmada por começar a voar de Lisboa para o Funchal, principalmente por poder introduzir no mercado uma nova alternativa a preços mais atractivos e conseguir a tão esperada democratização das rotas comerciais que os passageiros merecem".A easyJet recorda que dos 810 mil portugueses que gozam anualmente as suas férias em Portugal, estima-se que apenas 9% terá escolhido a Madeira como destino. A easyJet prevê que esta percentagem aumente entre 15% a 20%, já no final deste ano, tendo em conta os turistas que irão marcar presença num dos ex-líbris da Ilha, a festa de passagem de ano. "
Via Jornal de Negócios
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Viagens entre a metrópole e as ilhas por menos de 60 € não é ficção é a realidade aqui ao lado na Madeira...nós por cá, à conta do bolso de cada um, vamos sustentando os oligarcas do costume. Take it easy ? No away ! Fly SATA/TAP is our moto.

segunda-feira, julho 21

Relações Transatlânticas

(...)
Assumindo o risco e com o devido respeito pela figura incomparável de Roosevelt, começarei por citar Kennedy, que, perante o Parlamento do Canadá, afirmou que “a Geografia nos tornou vizinhos, a História fez de nós amigos, a Economia parceiros e a necessidade aliados”.

O que JFK disse do Canadá poderia, com toda a propriedade, ser aplicado ao caso português e, mais particularmente, ao caso do relacionamento entre os Estados Unidos e os Açores, ainda que vizinhos mais afastados.

Quanto à Geografia, os dados são óbvios. Portugal projecta-se no Atlântico através das suas duas regiões autónomas, desde logo fisicamente: de Lisboa à Madeira, a Sul, distam cerca de 900 km; de Lisboa aos Açores, um pouco menos de 1500, a que teremos de juntar outros 600 se tivermos como ponto de referência a ilha das Flores. Unindo geometricamente os pontos, e mesmo entrando em conta com as águas e o espaço aéreo internacional de permeio, verificamos muito claramente que não é a longa costa atlântica do continente português que determina a vocação euro-atlântica de Portugal e que dá profundidade de campo às aspirações de interlocutor privilegiado para o diálogo euro-americano que o nosso país sempre assumiu.

A História também não deixa grande margem de especulação. Da colonização do Havai às páginas de Melville e de “Moby Dick”, dos tempos de Billy the Kid à corrida ao ouro da Califórnia, do primeiro posto consular da América livre – sedeado nesta cidade onde hoje nos encontramos – às significativas correntes migratórias que fizeram com que residam nos Estados Unidos pelo menos três vezes mais pessoas de origem açoriana do que os cerca de 245 mil habitantes que a Região tem presentemente – muitos são os exemplos que ilustram, com clareza, um passado interligado, forjado em necessidades mas também em afectos, numa comunhão de sonhos e de conquistas.

Este tipo de relacionamento histórico não tem paralelo noutros pontos do país e não pode ser esquecido, quando se analisa o estado presente ou o futuro do relacionamento bilateral, porque faz parte dos rudimentos da vocação transatlântica portuguesa.

Da História também reza a parceria formal – de que muito e bem já se falou ao longo deste fórum – concretizada nos diversos acordos de concessão de facilidades militares, primeiro em Santa Maria e depois na ilha Terceira, e que ainda hoje assumem particular importância enquanto fonte de legitimidade e elemento definidor do peso específico da projecção externa de Portugal.

(...) Esta característica geo-estratégica reforçada historicamente é simultaneamente estrutural, na sua essência, e conjuntural, na sua parecença. Depende do que é – é certo - mas também do que parece, ou se quisermos adoptar um tom mais realista, do que se faz parecer.

Sendo peça essencial da engrenagem que sustenta a actuação diplomática e negocial de Portugal enquanto Estado de vocação Atlântica, os Açores são também interlocutores directos no diálogo transatlântico, na medida em que têm estado tradicionalmente de costas para o Ártico e de frente para Sul, o que lhes permite olhar, de forma articulada, para as duas margens do Atlântico.

Esta vocação assumida encontra aliás eco na moldura constitucional vigente e na própria configuração do sistema autonómico tal como o conhecemos presentemente. A cooperação transatlântica no quadro da autonomia constitucional e da actuação dos órgãos de Governo próprio da Região – se me permitirem este enfoque regionalista – assume, pois, um carácter particular que importa destacar.

Neste assunto, mais do que em qualquer outro (mesmo se considerarmos as matérias comunitárias), os Açores conferem uma dimensão externa à sua acção política, participando directamente num processo diplomático e negocial entre Estados soberanos. Estamos, portanto, perante aquilo a que eu chamaria (consciente do risco de doutrinar em seara alheia) uma “diplomacia a dois tempos”, em que uma Região, dotada de autonomia política e inserida num Estado unitário, a propósito de um relacionamento internacional, negoceia, num primeiro tempo, com o Estado onde está inserida e, num segundo tempo, com o Estado parceiro, no quadro das posições previamente definidas a nível nacional. Trata-se, assim, de um processo, de certo modo, singular e - posso dizê-lo com conhecimento de causa – bastante exigente.

Também o Acordo de Cooperação e Defesa entre Portugal e os Estados Unidos, assinado em 1995 e ainda em vigor, reconhece o carácter particular da relação entre a Região e os Estados Unidos, no contexto bilateral, ao consagrar o conceito de “cooperação específica” com os Açores e ao enumerar áreas potenciais de materialização dessa vontade expressa. Paralelamente, o Acordo contempla a presença e participação de representantes da Região nas várias estruturas especializadas e no órgão de cúpula de acompanhamento da sua execução e, mais recentemente e por proposta dos Açores, passou a incluir igualmente uma Subcomissão exclusivamente dedicada às questões relacionadas com a cooperação específica.

Há, portanto, por diversas vias e com diferentes fundamentações, motivos de sobra para considerarmos elementar o reconhecimento do carácter determinante do arquipélago na valorização de Portugal no plano externo.

A questão que se poderá colocar, contudo, é outra e diz respeito à forma como, ao longo dos anos, tem Portugal assumido e concretizado o seu crédito atlantista e o potencial de projecção que lhe confere o território distante e fragmentado destas ilhas. Como está implícito na pergunta, estamos perante uma questão de opções - intermutáveis, coexistentes ou concorrenciais, mas sempre opções.

Apesar do dinamismo próprio e galopante das Relações Internacionais fazer oscilar, quase a cada instante, o equilíbrio de forças e o desenho de prioridades da acção externa dos países, Portugal tem optado nas últimas três décadas – de forma legítima, obviamente – pelo desígnio europeu e pelo enquadramento da relação bilateral com os Estados Unidos em espaços de diálogo e cooperação de carácter multilateral, como a União Europeia ou a NATO.

Mais do que interlocutor directo com o outro lado do Atlântico, assumindo uma linha diplomática autónoma, ainda que coordenada e paralela às outras vertentes e imperativos da sua actuação externa, Portugal tem sido sobretudo um intermediário euro-americano, fazendo depender, muitas vezes, o seu posicionamento sobre questões fundamentais de um equilíbrio aritmético ao nível dos meios e em detrimento dos fins. Simbolicamente e apenas como exemplo ilustrativo, permitam-me que destaque o facto da agenda da recente presidência portuguesa da União Europeia não ter incluído um evento de alto nível de cariz transatlântico, semelhante talvez à Cimeira Europa/África oportunamente realizada em Lisboa.

Por outro lado, a história recente demonstra-nos igualmente um certo pendor para o reforço da importância da componente Defesa do Acordo (e mesmo dentro desta, num sudomínio muito específico), em detrimento da componente Cooperação, que, do meu ponto de vista, encerra um potencial estratégico e temático muito mais alargado e muito mais adaptável à evolução própria dos contextos de aplicação do Acordo, em proveito próprio de Portugal e em benefício dos Açores.

O mundo hoje é outro em relação à aos tempos de Roosevelt e da luta pelo domínio das rotas atlânticas, mas também é outro em relação a 1995; as opções estratégicas no quadro da política de Defesa dos Estados Unidos são diversas; o paradigma do relacionamento internacional está em profunda mudança e os principais focos de conflito à escala mundial são pelo domínio dos meios e não pelo domínio por si só.

Neste cenário, os Açores são o ponto de encontro ideal, de gestação e concretização de um verdadeiro eixo transatlântico de cooperação, em matéria de Defesa e Segurança, com noutras matérias de importância ascencional e hoje determinante, nos domínios das Ciências do Mar, da Terra e do Ar, no campo da observação meteorológica, em áreas científicas ligadas às novas tecnologias da comunicação e informação ou às ciências bio-médicas ou ainda no sector das energias renováveis, em nome da nossa história partilhada e do nosso futuro comum.

Não convém, porém, esquecer as palavras avisadas do Embaixador americano em Lisboa, em plena II Guerra Mundial, R. Henry Norweb, que escreveu, em despacho para Washington e depois de relatar as complexas e difíceis negociações que tinha mantido com o Governo português, que – e termino, citando - “… e ainda temos de enfrentar a habitual propensão dos portugueses para regatear sobre os pormenores”.

Síntese do texto lido no painel "Portugal e os Açores nas Relações Transatlânticas", do I Fórum Açoriano Franklin D. Roosevelt, 17 de Julho 2008, Teatro Micaelense, P. Delgada

domingo, julho 20

8333

Importa fixar tal valor porque ele devolve uma curiosíssima questão a todos os que, dos mais diversos quadrantes, gostam de lançar insinuações sobre o "escândalo" dos dinheiros que se gastam com as actividades artísticas em Portugal (...). Mais concretamente, vale a pena também perguntarmo-nos: que significa o facto de, no Portugal de 2008, um salário mínimo, 426 euros, render (num mês) cerca de 5 por cento daquilo que o seleccionador nacional ganha (num dia)?
Clarividente e acutilante. A ler.

O Futuro... de graça*

Comecemos por fazer um aviso: este escrito foi elaborado com base no princípio coeteris paribus, que é como quem diz que para se poder falar dos Açores daqui a 20 anos, temos de assumir que todo o resto se manterá constante. Por “todo o resto” entendemos nada mais nada menos que o mundo e por “constante” pretendemos designar as tendências actuais e o presente ritmo evolutivo.
(Convém também que se diga que os Açores olhados por um homem de 57 anos não podem necessariamente ser o mesmo que os Açores imaginados por um homem de 37, mas quanto a isso nada há agora a fazer.)

Antes de entrarmos na matéria de facto, apenas mais uma precisão: esta será uma reflexão assumidamente utópica, não no sentido imaginário ou ficcional do conceito, mas sobretudo enquanto retrato optimista dos Açores do futuro. Julgo que ninguém levará a mal que projectemos o nosso futuro colectivo em tons de esperança, porque para pessimismos já basta a vida vivida de todos os dias.

Dito isto, imagino os Açores de 2028 como um hub euro-atlântico, em áreas tão diversas como as das ciências da terra, do mar e do clima, as novas tecnologias da comunicação e a investigação aero-espacial. Tenho consciência de que a tecnologia tem uma enorme tendência para tornar obsoleta qualquer previsão a seis meses, encurtando distâncias e o próprio tempo, mas mesmo assim assumo o risco, porque do que se trata, neste caso concreto, é de valorizar a centralidade atlântica da Região e de multiplicar as valências do respectivo potencial estratégico.
Como acontece muitas vezes, primeiro foram as preocupações de Defesa e Segurança, e os interesses a elas associados, que colocaram os Açores no planisfério geo-estratégico e os conduziram ao lugar central que hoje ocupam, enquanto ponte aérea para a projecção de forças e centro nevrálgico de monitorização do Atlântico.
O mesmo conceito exportado para outras áreas de actividade – o que se vislumbra paulatinamente, com a instalação de estações de observação científica em Santa Maria, no Pico e futuramente na Graciosa – acabará por fazer dos Açores um palco obrigatório de estudo, na climatologia, na meteorologia, nas fontes alternativas de energia, no conhecimento dos oceanos e na interligação tecnológica entre os dois lados do Atlântico, entre outras áreas do saber.

Por outro lado, julgo que os Açores, em termos da sua projecção externa, tornar-se-ão uma marca com algum grau de selectividade, assente em valores como a preservação ambiental, o desenvolvimento sustentado e a biodiversidade. A distância dos grandes centros e das grandes massas, a dimensão e o isolamento, sendo evidentes limitações à dinâmica económica de escala, tal como hoje a concebemos, tornar-se-ão, a meu ver, trunfos cada vez mais valiosos com o passar dos anos - se é que a Natureza assenta na lei da compensação, como eu penso que de facto acontece. Este posicionamento estratégico trará, necessariamente, um tipo muito específico de procura turística e de investimento externo, aprofundando a nossa relação primordial com a natureza, com o mar e com as actividades a eles ligadas.

No plano interno, e ao ritmo de crescimento e implementação de reformas que temos vivido na última década, podemos conscientemente aspirar a uma sociedade mais qualificada, base de onde se projectam outro tipo de evoluções positivas como uma maior integração social, maior coesão económica e melhores condições de segurança.

É claro que os Açores de 2028 podem vir a ser algo de muito diferente do que aqui ficou escrito. Se assim for, façam pelo menos o favor de achar que poderiam ter sido muito melhores se fossem como eu escrevi, em 2008.


André Bradford para o Expresso das Nove

* private joke (not so private, but still a joke)


sexta-feira, julho 18

"Futurologia"

...
O Futuro

"Na verdade, estamos todos, em função da nossa compreensão e à nossa maneira, a tentar fazer do mundo – ou pelo menos da pequena parcela que nos cabe – um lugar melhor para vivermos." (Dalai-Lama)

Uma prognose dos Açores daqui a 20 anos é um acto bruxuleante e temerário. O futuro julgar-nos-á : Partindo da mega plataforma de cruzeiros que está no horizonte das nossas opções estratégicas a tendência de terciarização da nossa economia será cada vez mais acentuada. Teremos assim uma economia com claro ascendente do sector da prestação de serviços e uma empregabilidade condenada a servir o turista.

Mudar-se-ão os tempos e, inevitavelmente, mudar-se-ão as vontades. Logo, o monopólio do espaço aéreo Açoriano, detido pela joint-venture SATA/TAP, será um capítulo do passado. No futuro haverá livre circulação de pessoas e bens em regime de plena concorrência com outras companhias, low-cost e de "bandeira", que irão operar nas rotas de ligação dos Açores com o resto do Mundo. A própria SATA Internacional, após processo de privatização, será propriedade de um dos mais poderosos grupos económicos dos Açores que também irá explorar a rota marítima de passageiros inter-ilhas.

Nas ilhas ditas de coesão os empresários privados que sobreviverem à concorrência do Estado serão forçados a reconverterem as suas empresas ou a venderem o respectivo acervo patrimonial à Região apenas para saldarem os seus débitos. De empresários em nome individual passarão a assalariados da Região.

A regionalização de determinados serviços administrativos será nalguns sectores uma realidade. Assim, no domínio da segurança e da administração da Justiça, a Região Autónoma dos Açores terá a tutela político-administrativa da gestão corrente de funções públicas confiadas, até então, à longa manus do Terreiro do Paço. Será pois inevitável outorgar à região a tutela sobre os recursos humanos e materiais de forças de segurança não militarizadas. Teremos uma Reforma Judiciária por via da qual as comarcas do arquipélago dos Açores estarão polarizadas em torno da Relação de Ponta Delgada. Apesar de toda a evolução social o acantonamento dos pequenos partidos será uma nódoa numa sociedade mais participativa e com maior consciência cívica. Porém, os poderes públicos serão escrutinados também por uma opinião pública mais livre e cada vez mais plural.

A comunicação social que sobreviver à dependência da publicidade institucional ou comercial será induzida a abrir falência ou a associar-se a grupos económicos que a sustentem. No domínio do audiovisual a evolução tecnológica, com a consequente redução de custos de operacionalidade, permitirá a criação de canais privados de radiotelevisão. As emissões serão primordialmente disponibilizadas pela internet. A Universidade dos Açores acompanhará esta evolução criando formação específica para jovens que ambicionam fazer a sua carreira nestes novos domínios da comunicação e da tecnologia.

A Autonomia será venerada como oportunidade de negócios, mas ainda será discutível se a expressão "Povo Açoriano" terá ou não legitimidade para ser inscrita no Estatuto da Região Autónoma dos Açores...e haverá sempre alguém que, na "clandestinidade" e na reserva mental da sua consciência, ambicione mais Açores e menos Portugal.
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João Nuno Almeida e Sousa para o Expresso das Nove
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"Os Açores daqui a 20 anos" é o tema da edição especial do
Expresso das Nove da próxima sexta-feira e que é quase completamente preenchida pelos artigos dos bloggers Alexandre Pascoal, André Bradford, Francisco Botelho, Guilherme Marinho, João Nuno Almeida e Sousa, Nuno Barata, Nuno Mendes, Rui Goulart e equipa dos Tunalhos (constituída por Hélder Medeiros, Rui Amén, Tiago Mota e João Gregório)...a seguir com atenção e curiosidade.

quinta-feira, julho 17



Franklin Delano Roosevelt estudou Direito na Universidade de Harvard, mas fê-lo por imposição familiar. Não fosse ele um filho obediente, ter-se-ia inscrito na Academia Naval, em Annapolis, destino muito concorrido para uma geração – a sua – de jovens americanos que tinham lido de forma apaixonada a obra recente de Alfred Thayer Mahan, The Influence of Sea Power upon History (1890). As doutrinas do poder naval – de que o livro de Mahan é a primeira grande expressão teórica – marcarão de forma determinante a vida e a visão do mundo de Franklin Roosevelt, cuja estreia política ao nível do Governo Federal foi, precisamente, no desempenho das funções de Subsecretário da Marinha, sendo nessa qualidade que visitou as ilhas dos Açores em Julho de 1918, faz hoje 90 anos. Tem isto a ver com a iniciativa que o André já noticiou há uns posts atrás e que em boa hora a FLAD e o Governo dos Açores resolveram organizar a meio do Atlântico. Dirão os habituais surfistas da notícia que se trata de mais um daqueles Colóquios académicos, pródigos em questões bizantinas sem qualquer utilidade prática, mas ontem assisti no Teatro Micaelense ao início de uma reflexão estratégica sobre o lugar dos Açores na esfera global do século XXI – ou, num mundo apolar, para usar a expressão de António José Telo – que, confesso-o, me fez arrebitar as orelhas. Sob o signo de Roosevelt – assim o espero – começou ontem a exorcizar-se nas ilhas de bruma a ladainha da ultraperiferia. Gostei de ouvir a Cônsul Jean Manes falar da centralidade do arquipélago para o estudo das alterações climáticas (por alguma razão o Coronel Francisco Afonso Chaves e Alberto do Mónaco queriam transformar os Açores, em finais do século XIX, na sede mundial do Observatório Meteorológico). Gostei de ouvir o Presidente do Governo, Carlos César, “candidatar” os Açores a sede do Africa Command (sempre estou para ver o destaque que a comunicação social irá dar a essa declaração, bem pouco académica). Na conferência que encerrou os trabalhos de ontem, foi dito que houve qualquer coisa em 2008 que fez um click na ordem mundial. Vivemos hoje numa era (já) pós 9/11 ou, por outras palavras, no Post-American World de que fala Fareed Zakaria. Não sendo eu um oráculo das Relações Internacionais, só posso assegurar-vos uma coisa, blogosfera: ontem houve qualquer coisa que fez um click nos Açores.

Emigrações

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O retrato da nossa emigração é o reflexo possível do sonho Açoriano. Num recente artigo de Nuno Costa Santos, publicado na revista Paralelo da FLAD, recordamos a sorte da "serena resignação de quem viajou por necessidade" em evasão de séculos de "biografias de pobreza". No mesmo artigo fica o registo de todo esse património de Açorianidade que legamos ao novo mundo: "a importância da família, a figura paterna como marca de autoridade e a manutenção de laços com a família alargada". Foi uma gesta silenciosamente heróica desde a Costa Atlântica até às lonjuras do Havai onde, ainda hoje, a presença Portuguesa é real e de ascendência Açoriana. A emigração é ainda hoje uma porta de evasão em tempos de crise. Porém, felizmente, também a emigração já não é o que era. Nesse sentido sugere-se a deliciosa leitura da autobiografia de Charles Peters, inclusa na monografia "Um português na corrida ao ouro", da autoria de Francisco Cota Fagundes, com a chancela da Ed. Garajau. O "ouro" que então se buscava iniciou-se com os baleeiros da Nova Inglaterra que faziam o engajamento das suas tripulações nestas ilhas. Foi assim que começou, aos 10 anos de idade, em 1825, a aventura da emigração de Carlo Pedro Deogo Laudier de Andriado : o nosso Charles Peters. A partir daqui percorremos a aventura da sua biografia de emigrante que culmina na Califórnia em busca do pote dourado do arco-íris da "febre do ouro". Trata-se de um relato folclórico de cerca de um século de existência mas prenhe de lições de vida. É ainda o retrato de um tempo de profundas misérias na Pátria e dessas dá nota Charles Peters quando sublinha que: "no meu tempo as crianças estavam divididas em duas classes: as que andavam de sapatos e as que andavam descalças!". Esse é o retrato de um passado que importa esquecer. Mas também há um património que é um acervo que deve ser sempre revisitado. Além da Açorianidade já resumida, há nesta picaresca autobiografia uma voz que nos fala de um passado em que o legado às gerações vindouras era feito de valores. Essa voz é também a de Charles Peters nas suas famous last words da sua recriada autobiografia. Tentando ganhar a vida honestamente este Açoriano, emigrado na Califórnia, no final da sua vida recorda o seu legado: "antes de eu partir, minha mãe inculcou-me os preceitos de pagar as minhas dívidas, dizer a verdade, evitar a coscuvilhice, não abusar do álcool e do tabaco, cumprir a minha palavra e ser caridoso com o meu próximo e os animais, não me avisou de que não me metesse em litígios – que têm sido a desgraça da minha vida(…) Nunca me meti num processo sem acreditar que a justiça estava do meu lado, nem perdi nenhum caso de tribunal sem pensar que o devia ter ganho, e que vão para o diabo os que me não derem razão". Tinha seguramente razão e apesar de rudimentarmente letrado há na sua voz uma sabedoria que os nossos emigrantes espalharam mundo fora. Pena é que esse evangelho não seja praticado na sua própria terra. Mas esse é o anverso da nossa emigração.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com

quarta-feira, julho 16

Summer Sounds

Vampire Weekend - A-Punk
Cut // Copy - Feel the Love
MGMT - Time to Pretend
Midnight Juggernauts - Shadows
The Last Shadow Puppets - The Age of the Understatement



para escutar em shuffle e repeat, durante a próxima semana, na Jukebox do :Ilhas. Enjoy.

Agente Provocador



O Agente Provocador recebe no centro de operações da Antena 1 o multifacetado Nuno Barata que muito recentemente celebrou 5 anos de emissões do seu Fôguetabraze.

terça-feira, julho 15

Uma crise nunca vem só


Trouble in paradise: Hawaii facing tourism “crisis”
Mais um dado que vem corroborar este momento de crise global à qual ninguém está imune, inclusive os destinos turísticos com um incoming consolidado - e tudo porquê?! O aumento inaudito dos preços do petróleo. Soluções?

Álbum de família

Ponta Delgada - Vista Aérea tendo como elemento central o flutuador de um Grumman G-21 Goose da Aviação Naval, 1 dos 3 aparelhos que foram destacados para o Centro de Aviação Naval em Ponta Delgada, entre os anos de 1941 e 1946.

Entrada no álbum de família por mão do nosso enviado especial A. Correia.

blog worth


My blog is worth $32,743.32.
How much is your blog worth?



via Foguetabraze

segunda-feira, julho 14

...Eu hoje deitei-me assim

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Harry Dean Stanton pode parecer um erro de casting mas é um actor de uma rara autenticidade. Paralelamente à sua errante carreira cinematográfica Stanton é também um músico discreto, mas suficientemente qualificado para ter sido sideman de Bob Dylan ! The Harry Dean Stanton Band é o local de refúgio deste actor que é também um performer na guitarra e possui uma inclassificável voz. Quem não o recorda em Paris Texas a dar voz a uma valsa Mexicali num registo espectral e na língua oficial do México ? Um Clássico.
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Com uma filmografia com cerca de 50 filmes, e parcerias com "deuses" do cinema como Marlon Brando ou David Lynch, é em 1984 que Harry Dean Stanton participa num dos filmes da minha vida: Paris Texas. Vi-o na já extinta Sala de Cinema do Teatro Micaelense. Recordo hoje, a propósito do aniversário deste Grande Senhor, o excerto em que a personagem de Stanton se revê "dentro do filme" numa sessão familiar de um outro filme de 8 mm. Um momento perfeito da história do Cinema, servido com a intemporal banda sonora de Ry Cooder. Fizesse eu uma lista dos 10 melhores filme de sempre e seguramente lá estaria Paris Texas de Wim Wenders. Quanto a Harry Dean Stanton, nascido em West Irvine, Kentucky, comemora hoje 82 anos de vida. É já um ícone do cinema e um must dos meus anos 80.
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Roosevelt nos Açores


Chegou a minha vez de fazer publicidade, embora o evento em causa não me coloque qualquer problema de consciência, face à qualidade da mão-de-obra e da matéria-prima. De quarta, 16, a sexta, 18, no Teatro Micaelense, em Ponta Delgada, tem lugar a primeira edição do Fórum Açoriano Franklin D. Rooselvet, numa iniciativa conjunta da Presidência do Governo Regional e da Fundação Luso-Americana, e apoios da Universidade dos Açores e da SATA.

A ideia levedava há algum tempo, mas encontrou finalmente condições favoráveis para se concretizar. De Mário Soares a Adriano Moreira, de Stephen Schlesinger a Pierre Hasner, de José Cutileiro a Loureiro dos Santos, de António José Teixeira a Mário Bettencourt Resendes ou Judite de Sousa, o leque de oradores e palestrantes é variado e de qualidade. Quanto aos temas, o programa procura ser o mais abrangente possível, sem esquecer a ligação de Roosevelt aos Açores e a importância geo-estratégica do arquipélago enquanto ponte euro-atlântica. De dois em dois anos, numa ilha perto de si, começando por S. Miguel.

As sessões são abertas ao público em geral, obviamente.

Ops!

He did it again. O lado b.

SMS

«(...) quando o profano viola a intimidade do sagrado é meio caminho andado para o fim da tradição»
Curiosa escrita recebida - ontem - por um mensageiro devidamente identificado perante este editor do :ILHAS, em horário nobre e no calor da noite que passou. Uma síntese acutilante.

domingo, julho 13

Trivial Pursuit


1 - Novo edifício sede da CCTV (China Central Television). Projecto de Rem Koolhass/OMA (Office for Metropolitan Architecture).


2 - Mao Tse Tung pregando a Revolução Cultural nas ondas hertzianas da Rádio Chinesa.

Descubra as diferenças, ou, confira as semelhanças ?

sexta-feira, julho 11

aforismo do dia

se a piroseira tivesse imposto Ponta Delgada estava falida

Gadgetlândia


O país de quem se diz não ter dinheiro para nada rejubila e faz fila para adquirir o mais recente gadget da moda, para juntar, possivelmente, ao cemitério de gadgets que quase todos nós temos numa gaveta lá de casa, neste país que, dizem alguns, não tem dinheiro para nada.

quinta-feira, julho 10

Do que este Blogue precisa é de...



Soft Porno-Melancólico.

A entrevista

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Em pleno estágio para a silly season a RTP Açores encerrou o ciclo de entrevistas/debate com a graciosa prestação de Carlos César. O líder do PS Açores, que teve a bonomia de ser escrutinado pela televisão, teve uma performance que replicou a doutrina do Oásis...desta feita em tons de cor-de-rosa. O tom laudatório da obra feita até sugeria que neste país escalavrado pela crise há uma aldeia de resistentes Socialistas que, nestes resquícios da Atlântida, recriaram o Paraíso na terra. Para Carlos César, desde o rendimento disponível das famílias Açorianas em crescimento até ao controlo do preço dos combustíveis, tudo sugere que vivemos num eldorado Atlântico. Apesar do esforçado "contraditório" feito pelos jornalistas de serviço o certo é que os mesmos não conseguiram dissipar essa miragem que na realidade quotidiana é tantas vezes negada. Seja como for, por imperativo de honestidade intelectual, é obrigatório condescender que foi uma excelente entrevista de Carlos César. Feita, aliás, à sua medida e temperada com quesitos fora do alinhamento. Por exemplo: César esquivou-se, com a habilidade e a flexibilidade de um político profissional, ao tabu da sucessão, ao protocolo secreto com Sócrates para se recandidatar e até subiu ao podium dos paladinos da Autonomia ao fazer a reconstituição psicodramática do Estatuto que queria para os Açores e que os Senhores de Lisboa chumbaram. Agora toda a culpa recai sobre os ombros do Presidente da República. Nem sequer ocorreu aos jornalistas perguntar onde estava o grupo parlamentar do PS na AR quando a censura ao "Povo Açoriano" foi o prenúncio de um Estatuto retalhado! De permeio ficou assim a subliminar ideia que todas as maleitas que assolam este Oásis são imputáveis a forças centralistas e a gente inimiga da Nova Autonomia. Espanta-me, contudo, que no alinhamento da entrevista em causa não tenham sido pedidas contas sobre os clamorosos erros deste Governo. Desde aqueles que tiveram direito à contrição de um mea culpa público até aos outros que, apesar de estarem em estado de negação, são o fruto amargo que se deixa de herança às gerações futuras. Exemplo dos primeiros: o clima de insegurança que se vive nos Açores que estão hoje no pelotão da frente no que concerne ao consumo (e consequente tráfico) de estupefacientes com as inevitáveis refracções criminais que tal situação implica. Sobre este pesadelo, que a todas as famílias Açorianas atormenta, não se vislumbra qualquer projecto de inversão de tendência. Exemplo dos segundos: é a inqualificável amputação de parte do nosso património ambiental, com destaque para a delapidação da Fajã do Calhau, num sorvedouro de dinheiros públicos, sem que se encontre uma justificação para tal "erro" cuja magnitude não é apenas local mas um sintoma de que nem tudo são rosas neste reino de César. A todos estes escolhos César foi poupado numa reverencial entrevista em que ficou a ideia de que se tratava de tempo de antena institucional, e não de um debate com um dos candidatos à liderança do próximo Governo Regional dos Açores.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com

quarta-feira, julho 9

Agente Provocador



AGENTE PROVOCADOR em directo das Portas do Mar, a escolha dos melhores discos da 1ª metade de 2008. Com Herberto Quaresma, Alexandre Pascoal, João Nuno Almeida e Sousa, Pedro Arruda e Sérgio Fazenda Rodrigues. Uma emissão marítima no novo passeio público de Ponta Degada. Até já.

Reporter X

Detalhes de somenos importância *

O automóvel assume um peculiar fascínio no imaginário local. Não sei explicar as razões deste fenómeno, mas esse é um dado incontornável. Talvez o facto de não existir uma eficaz rede integrada de transportes públicos possa explicar, em parte, o objectivo supremo de aquisição e posse. Contudo, e apesar disso, essa não será seguramente a única explicação.

Agregado ao automóvel - usurpador impune do espaço público, sendo que Ponta Delgada é um bom mau exemplo do que não deve ser a gestão rodoviária de uma pequena-média cidade - assistimos nas ilhas à proliferação de um número considerável dos desportos ditos motorizados, como ralis de ilha, de carros antigos, provas todo-o-terreno, motocross, moto 4 e, mais recentemente, passeios e encontros motards.

No fim-de-semana que passou era difícil imaginar maior profusão de acontecimentos: desde a inauguração das Portas do Mar, passando pelas Festas das Ribeira Grande às da Ribeira Quente e ao Sata Rallye. Bom senso é necessário, mas nem sempre está disponível. E, nessa medida, gostaria de referir o estado caótico, ao nível da circulação automóvel, que afecta os cidadãos da cidade de Ponta Delgada (e algumas zonas da ilha), quer devido às obras na marginal, quer às de saneamento básico ou outras que, não obstante a época alta, a de maior fluxo turístico às ilhas, teimam em iniciar-se, provocando constrangimentos ainda maiores ao trânsito. Já nem falo de cortejos e procissões sem aviso prévio e sinalização adequada que provocam o desespero dos locais (imagino bem o que dirão todos aqueles que andam por aí de férias). Bom, e de regresso ao “desporto automóvel”, parece-me inadequado e mesmo inusitado que se encerrem artérias fundamentais da cidade para a instalação das infra-estruturas de apoio às equipas, da mesma forma que é completamente despropositado que se dê o arranque oficial da referida prova a partir do centro da cidade e em plena “hora de ponta” (quase em simultâneo, na passada 5ª feira pelas 19h00, decorria a recolha selectiva - fundamental e necessária - em pleno centro histórico. Havia necessidade?!). Detalhes de somenos importância.

Queremos fazer dos Açores uma região ambientalmente sustentável, mas paralelamente, e tendo em conta todo o investimento em torno do ambiente e da promoção turística, não será desadequada ou mesmo contraproducente a promoção de desportos que ponham em causa o equilíbrio que queremos implementar, em detrimento de outras iniciativas desportivas mais condizentes com a causa ambiental?! O mundo está em mudança e com ele velhos hábitos... que teimosamente, e daí talvez não, irão ter de se reajustar. Quer queiramos, quer não.


* edição de 08/07/08 do AO
** Email Reporter X
*** Imagem X Rui Guerra - Open Fotosub Graciosa

Mãe e Filho

Inspirado Vitor.

terça-feira, julho 8

As Entrevistas

Declaração de Intenções:
1º Sou amigo da Berta Tavares e do Rui Goulart.
2º Mesmo não sendo social-democrata nutro alguma simpatia pelo Dr. Costa Neves.
3º Sendo socialista, e não obstante inúmeras divergências de estilo e programáticas, tenho um profundo respeito pela sagacidade política de Carlos César.

Posto isto, vamos então às entrevistas. Devo confessar que na semana passada não consegui sequer comentar a entrevista do Dr. Costa Neves. O desconforto era tal que não me parecia adequado zurzir no triste espectáculo dado tanto pelo político como pelos jornalistas. O tom crispado das perguntas e das respostas, mais as acusações caluniosas proferidas, deixaram-me estupefacto. Ao que se acrescenta o facto de só ter começado a ver a entrevista a meio, quando o caldo já estava entornado e os ânimos para lá de exaltados, não me permitiam fazer uma análise completa e isenta. Mas depois de ver na íntegra a de ontem apetece-me realçar alguns dados.

Para mim há uma regra de ouro numa entrevista que dita que o principal neste género jornalístico não são as perguntas que se fazem mas as respostas que se conseguem. O entrevistador é como um garimpeiro que vai peneirando a areia até encontrar uma pepita de ouro no meio da retórica do entrevistado, principalmente se esse entrevistado for um político. O estilo in your face, acusatório e conflituoso tem elevadíssimos riscos, como se comprovou na semana passada e leva, em última instância, ao desconforto do espectador e à nulidade da entrevista. Para a história da entrevista do Dr. Costa Neves apenas ficará a briga entre este e o Rui Goulart, o que na minha opinião é péssimo para o político e mau para o jornalista.

Por isso a entrevista de ontem estava, antes de começar, totalmente condicionada pela anterior. A expectativa era saber se a atitude dos jornalistas seria a mesma o que dava logo uma vantagem estratégica ao entrevistado. Este podia manter-se sempre num plano de superioridade, fosse qual fosse a pergunta, pois já sabia da triste figura do entrevistado anterior. Eu, se fosse director da RTP-A, tinha mudado os jornalistas, mesmo correndo o risco de parecer uma censura ao trabalho feito anteriormente, a mudança dos entrevistadores permitiria criar um elemento surpresa aos espectadores e ao entrevistado e impediria termos de comparação, focalizando-se assim as atenções no conteúdo e nas respostas que, como já disse, são o ouro de uma entrevista.

Carlos Cesar, apesar de atravancado na cadeira, surgiu imperial no ecrã da RTP-A e até a primeira pergunta, sobre a Dra. Berta, foi mais um doce que os jornalistas lhe deram e mais um prego no caixão do Dr. Costa Neves, do que uma rasteira. Nas próximas eleições é contra Costa Neves que Cesar se candidata e não contra um fantasma de tailleur azul bébé que sistematicamente se recusa a ir a jogo. A primeira pergunta, e a que ficou até ao fim por fazer, deveria ter sido sobre os valores e a razoabilidade do investimento nas Portas do Mar e na sua festa de inauguração e nunca sobre fait-divers de palmadinhas nas costas em discursos de foguetório. Deixaram que Cesar se apresentasse como líder de todos os açorianos e não como líder de um partido candidato a eleições. A partir daí Cesar tinha a entrevista na mão e nunca mais a perdeu.

Sobre política uma nota importantíssima. Desde o início que Carlos Cesar compreendeu que o seu partido são os açorianos, mais do que o PS, e todas as estratégias no sentido de criar essa sintonia entre as suas candidaturas, os seus governos, e uma determinada concepção dos Açores têm sido utilizadas. Veja-se a oficialização abusiva do termo Governo dos Açores. O recente impasse na aprovação do Estatuto e a forma como Cesar hiperbolizou a matéria colocando-a em termos de um conflito grave entre a autonomia e o centralismo é um inteligentíssimo passaporte para mais uma maioria absoluta. Importaria investigar o porquê de termos chegado a este ponto. A gestão dos timmings, as alterações no texto, as negociações nas propostas. E importa não esquecer que César abriu a porta para que esta revisão do Estatuto nunca venha a ser aprovada.

Depois a entrevista foi correndo ao sabor das polémicas do momento, mas sempre sem o aprofundamento das questões, como num café. Nas tarifas aéreas, nos transportes marítimos, na ajuda às famílias, aquilo que parecia implícito nas perguntas era depois descartado para passar ao tema seguinte. Mas um momento merece ser realçado. O suposto conflito entre membros do Governo Regional, com a insinuação de não se falarem em reuniões de Governo. Ao jornalista caberia sustentar a acusação, que obviamente foi liminarmente rejeitada por Carlos Cesar, é que fica no ar a ideia que a pergunta é feita com base em rumores, boatos e jogadas de bastidores, o que prejudica a necessária isenção do entrevistador. Se a questão era a sucessão então que se fizesse essa pergunta frontalmente e não agitando com uma suspeição impossível de comprovar. Mas da mesma maneira que faltou falar em sucessão também faltou falar na tão propalada renovação no futuro Governo, nas listas de deputados, na abertura aos independentes, no próximo quadro comunitário de apoio, no pós 2013, no fim das cotas leiteiras, na acção do PS nas autarquias, na captação de novos mercados emissores para o turismo e tantos, tantos outros, temas de extrema importância para o futuro dos Açores e de nós que cá vivemos.

De resto, Cesar respondeu ao que quis e como quis, sem impedimentos, sem confrontos e com isso cimentou ainda mais a ideia generalizada de que é o melhor político actualmente no activo nos Açores garantindo mais quatro anos na liderança do Governo Regional e quem sabe se outros mais.

Vox Populi

"auscultar o vox populi, essa entidade sagrada de cujos pronunciamentos - sempre inteligentes e informados - dependem os deuses."
Miguel Castelo Branco - Combustões
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Rhona Mitra de molho abrindo as portas a outros mares
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"As imagens da inauguração das Portas do Mar correram mundo como exemplo da funchalização de Ponta Delgada."
Tibério Dinis no In Concreto

"Bastava-nos um cais de cruzeiros e o aumento da marina mas, como é regra na imbecilidade das políticas económicas que pretendem "deixar marcas" de "décadas de oiro", lá vai também mais um "centro comercial", mais uns "espaços" ditos multiusos, mais betão e muitos mais negócios manhosos para a rapaziada "amiga" da Nova Autonomia. Só mesmo o "engenheiro" que deu a massa poderá explicar ao "resto" do País a "estruturante" asneira. As "crises", financeira e económica, fazem milagres...se fosse na Madeira o País escandalizava-se e obviamente Sócrates não ia lá!"
Estevão Gago da Câmara no Açoriano Oriental.

"(...)com tanta roqueira e fogo-de-artifício a estralejar, o acontecimento é capaz de atrasar o movimento de rotação do planeta e tem lugar numa nesga roubada ao oceano, encavalitada num antigo, feliz e desafogado espelho de água, actualmente atravancado de valências, onde nem raias ou ratos do mar conseguem sobreviver em paz na escuridão submersas do betão, do ferro retorcido, do calado de barcos e barquinhos, a que se junta todo o tipo de dejectos e esgotos a desaguar numa imensa nuvem repugnante de poluição, a expandir-se por água adentro até aos nossos cada vez mais apertados horizontes. Já escrevi, propus e reafirmo a minha concordância com um cais de acostagem para paquetes, mas rejeito, como cidadão contribuinte, essa volumetria escandalosa, com a reprodução artificail de um "rosto de cão" a guardar fruto da megalomania."
Jorge do Nascimento Cabral, no Correio dos Açores.

"(...)acho que devia ter havido mais moderação, mesmo sabendo-se que estamos em ano eleitoral. A situação mundial da economia aconselha prudência a todos os níveis. É natural que haja alegria pela inauguração de um empreendimento tão significativo para S. Miguel e para a Região, mas é nas horas de euforia que os políticos e empresas devem mostrar maior capacidade de contenção e maior sensibilidade relativamente aos que vivem em condições menos favoráveis."
Argolas no Argoladas

"acabei de chegar do espectáculo multimédia da inauguração das portas do mar. Aplicando um trocadilho algo bacoco à situação, diria que foi um espectáculo multimerda mas apetece-me salvar dos escombros uma trupe de acrobatas como reconhecimento por terem salvo o show. Para demonstrarem uma série de soluções tecnológicas, os senhores produtores criaram uma espécie de narrativa dita em voz off, louvando os mitos e mistérios ilhéus ou lá o que aquilo pretendia ser em vez de ser o contrário, criar uma história no desenrolar da qual pudessem aplicar alguns dos seus artifícios. Ópera ou perto disso, uns barquinhos de pesca, e uns caiaques com umas figuras em esferovite pintadas a bordo, mais uns foguinhos... cá para mim foi uma grande desilusão"
Mário Roberto no Entramula

"(...)o espectáculo teve uma boa banda sonora, de suporte a um texto dito por uma daquelas vozes que tanto vende os Açores, como tampões "Tampax".Vende bem. Mas foi repetitivo. No final, quando o "speaker" de serviço agradeceu em nome do senhor presidente do Governo gritando Viva os Açores, ao meu lado alguém acrescentou ironicamente "Viva o PS"...É que o texto que serviu de base a esta "ópera do mar" por várias vezes parecia mesmo inclinado a culminar nessa apologia rosa."
Fiat Lux no FiatLuxCarpediem

...mas César Dixit

"Há sempre quem discorde de alguma coisa, apesar de muitas vezes serem sempre os mesmos – mas disso não resulta mal algum: por aqui muitos deles andarão, ou aqui virão, se é que hoje aqui já não estão"
Carlos César na inauguração das Portas do Mar.

segunda-feira, julho 7

Aviso à navegação

O header do :ILHAS reproduz a edição de uma foto gentilmente redireccionada do fotoblog de Filipe Franco. A gerência agradece.

domingo, julho 6

Incontinências



Ao contrário da ilha, durante o presente fim-de-semana, este blogue não foi uma festa e mais se pareceu com um Fado_
Dizem que é mau, que faz e acontece
arma confusão e o diabo a sete
agarrem-me que eu vou-me a ele
não sei o que lhe faço
desgrenho os cabelos
esborrato os lábios
se não me seguram
dou-lhe forte e feio
beijinhos na boca
arrepios no peito
e pagas as favas
eu digo: - enfim,
ó meu rapazinho
és fraco para mim!

Deolinda - Fado Toninho

Sem margem para erros

Sigam o link.

A esquerda ainda pensa a cultura?

Muito e bem.

sexta-feira, julho 4

Miss Liberty




Pessoalmente, dispensava os adereços militares (calças e placa de identificação) mas, mesmo assim, é difícil resistir aos encantos da Jessica Simpson. Por isso, e antes que o dia acabe, happy 4th of July blogosfera.

Vergonha

Não vou postar o vídeo que capta o sofrimento de Esmin Green numa sala de espera da ala psiquiátrica do Hospital de King's County, em Brooklyn, Nova Iorque, e a inexplicável passividade de uma série de funcionários clínicos e de segurança, que a vêem e nada fazem, até à sua morte, 45 minutos depois. Decidi assim por vergonha. Sim, vergonha.
Tenho vergonha de um mundo que vê uma pessoa inanimada e pensa nas eventuais consequências pessoais de uma decisão que é um imperativo ético. Tenho vergonha de um mundo que admite um sistema de saúde assente na lei da selva, onde quem pode vive e quem não pode morre. Tenho vergonha de um mundo que ainda tem dúvidas sobre a parcela de culpa própria que podem ter os doentes psiquiátricos. Tenho vergonha de um mundo que prefere defender-se do incómodo a lutar incomodado, um mundo que se escuda na vida pessoal para justificar a inacção cívica, um mundo de chinelos e pijama, um mundo caniche, e não um mundo cão.
Se quiserem ver do que estou a falar, têm aqui o link. Não vos aconselho, contudo. E nem o despedimento de três responsáveis pela urgência psiquiátrica, do médico que estava de serviço e do funcionário da segurança, me faz dormir melhor. A vergonha não sai dormindo, nem lavando. A vergonha é para sempre.

Publicidade institucional

E ainda há quem diga que não existem almoços grátis...

constitucionalidades

Faço minhas as palavras do Guilherme, aquilo que se previa aconteceu mesmo. Agora voltam ao de cima uma série de outras teorias de conspiração. Atenção aos timmings, é que daqui a dias é verão e ninguém trabalha... A política é feita de muitas surpresas...

quarta-feira, julho 2

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"Determino que a requerida Google Portugal informe nos autos os dados de identificação usados na criação do blogue http://povoaonline.blogspot.com ; Determino que as requeridas Google Inc. e Google Portugal impeçam de imediato o acesso ao referido blogue". Foi nestes termos que a Mma Juíza da 1a Vara Cível de Lisboa sentenciou o cartão vermelho a um blog que, sob o anonimato, tinha por linha editorial vilipendiar o bom-nome dos autarcas do burgo da Póvoa do Varzim. A decisão é inédita mas será por certo seminal para um vasto reportório Jurisprudencial. Para quem está na blogosfera escondido, de atalaia por comissão de outrem, é também um cartão amarelo que admoesta desde já a uma moderação no serviço de franco-atirador. Por outro lado, a decisão Judicial em causa honra aqueles que sempre fizeram do espaço da blogosfera um fórum de debate responsável e, consequentemente, responsabilizaram-se por esse debate dando um rosto e uma identidade à opinião que foram publicando. A decisão surge motivada pelo facto de o Tribunal ter entendido que todas as "crónicas" do referido blogue, publicadas pelo respectivo "administrador/autor anónimo", tinham como "único objectivo difundir junto do público, de forma gratuita, vulgar e difamatória, a ideia de que os requerentes (Presidente e Vice-Presidente da Autarquia visada) são corruptos e corruptíveis." O Tribunal censura ainda a veia "satírica" do blog pois todas as "crónicas encontram-se ilustradas com fotografias dos requerentes, mas com a sua imagem distorcida e com montagens, acrescidas de comentários sem sentido e jocosos como se tratassem de falas de banda desenhada.". Curiosa é ainda a analogia que o Tribunal opera na fundamentação de Direito ao convocar "os limites imediatos à liberdade de imprensa" para censurar o "administrador/autor anónimo" do pasquim cibernético em causa. Por este caminho não tarda e os administradores dos blogues também serão, civil e criminalmente, responsabilizados pelos actos dos "visitantes do blogue que enviem, por meios electrónicos, os seus comentários.". Na linha do horizonte está a inevitável ponderação entre o direito à honra e ao bom-nome de qualquer cidadão, seja pessoa pública ou não, e o direito à liberdade de expressão e de crítica. Nenhum desses direitos fundamentais é um direito absoluto e devem comportar as limitações que o direito Constitucional consagrou sob o critério da proporcionalidade e que o cidadão comum reconhece como decorrentes do puro bom senso. Na blogosfera anónima – e não só - não faltam exemplos de falta de gosto e de elementar bom senso. Ficamos pois a saber que para estas nódoas há o precedente Jurisprudencial que permite aos "lesados" pedir ao Tribunal que os mesmos sejam banidos da rede…até que encontrem nova morada para se alojarem no servidor da Google Inc. A comprovar o que antecede os meliantes em causa estão de regresso em http://povoaoffline.blogspot.com com a publicação integral da Sentença! Enquanto o Tribunal não lhes descobrir a identidade só lhe resta a hipótese, meramente Académica, de colocar off-line o Google.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com

Obama's iPod




A pretexto da cover story do último número da Rolling Stone, dedicada aos gostos musicais de Barack Obama, resolvi alinhar uma playlist que, devo confessá-lo, apenas tem de meu o trabalho de edição. Apesar da negritude do candidato Democrata, optei por escolher uma série de artistas que, excepção feita ao Stevie Wonder, são tão brancos como os melhores detergentes do mercado. Ralph Nader, aquele que lixou a vida ao Al Gore em 2000 (lembram-se?), acusou na semana passada Barack Obama de talking white, coisa que, pelos vistos, integra a mais recente lista de pecados da esquerda alternativa norte-americana. Lendo atentamente o artigo da Rolling Stone, apercebi-me de que tinha muitos brothers por onde escolher, desde os Earth Wind & Fire até ao John Coltrane, passando pelo Miles Davis e por rappers com nomes inenarráveis, mas decidi manter-me fiel às paletas musicais mais claras. Digamos que, metaforicamente, estarei a piscar o olho ao eleitorado do centro, muito embora considere ser essa uma estratégia política muito arriscada para quem quer abrir o inaugural ball da Casa Branca em Janeiro de 2009 ao som de Signed, sealed, delivered, I’m yours.

Agente Provocador



O Agente em antena semanal sempre às 4ªs. Esta semana, e na 1ª hora, a conversa tem como convidado - João Decq, na pele do artista que lhe consome o pigmento. Na 2ª hora, música e banalidades maquilhadas de actualidade pós-qualquer coisa. Para ouvir depois das 22h10.

Coisas Realmente Importantes

Tribunal europeu rejeita queixa contra redução da ZEE
Recorra-se, sff.

...Eu hoje deitei-me assim

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"Rather than love, than money, than faith, than fame, than fairness...give me truth." Na boca de Chris McCandless esta citação de Henry David Thoreau ganha uma dimensão épica no arrebatador filme "Into the Wild". Realização de uma paixão de Sean Penn o filme está já disponível em DVD e é guarnecido com uma poderosa banda sonora pela mão de Eddie Veder dos Pearl Jam. Nela pulsa a América das fronteiras da evasão e da recusa à padronização do consumismo. O clip que aqui partilho nestas : Ilhas, com fronteiras bordejadas pelo mar, é pontuado com "Hard Sun"… provavelmente a melhor canção de uma banda sonora ao nível de um filme sublime. Enjoy it.

terça-feira, julho 1

Insustentável

Insustentável *

A Região, o país e o mundo viveram recentemente, de forma real e concreta, os efeitos da crise – primeiro, dos combustíveis; depois, dos alimentos. Esta é uma crise de contornos económicos, mas com ampla repercussão social. E como só agora se manifestou, de forma gravosa, ainda não há forma de se avaliar a sua real dimensão. A Globalização ripostou. Através de um, aparentemente simples, bloqueio de camionistas, o país quase parou e o que antes parecia ser ficção passou agora para o directo dos noticiários. Algo que nunca antes havíamos vivenciado transformou-se num fenómeno de repercussões europeias e multiplicou-se por toda a Europa. A nossa paralisação foi “mínima”, se comparada com as dos nossos congéneres europeus.

Nunca o local condicionou de tal forma implacável o global. No cerne desta crise está a crescente especulação dos combustíveis e a forma directa como estes afectam o nosso modo de vida. Os problemas estão há muito diagnosticados, mas as cedências necessárias a um equilibro, que se quer natural, dependem de cada um de nós (estados e países, incluídos!). Sabemos de antemão que o entendimento nestas questões nunca será total, nem pacífico, que este é um mundo a duas ou mais velocidades, e que apenas confrontados com uma situação limite ou catastrófica passaremos à acção. Agora, atingido o bem-estar social na globalidade do hemisfério norte (e mesmo aqui com as disparidades que conhecemos) exigimos ao, por nós chamado Terceiro Mundo, que agora começa a usufruir de algum conforto material, que abdique do mesmo em prol de um mundo melhor. Nada mais falível.

Esta é uma crise transfronteiriça que não escolhe governos, partidos e políticos. Parte da resolução deste problema energético passa por uma profunda, persistente e contínua mudança de comportamentos, quer na racionalização, quer na adopção de boas práticas em torno dos recursos de que fruímos. Alguns consideram as medidas a tomar na tentativa de contenção do aquecimento global alarmistas, inúteis, extremamente dispendiosas e com poucos benefícios para a maioria da população mundial, pois existem outros problemas no mundo a carecer de resoluções urgentes. Certo! E soluções consensuais?! Alguém?!

O altruísmo com que encaramos esta situação é suficientemente revelador da atitude egoísta e irresponsável com que gerimos o planeta. Até quando será possível mantermos esta posição insustentável? Até quando?!


* edição de 24/06/08 do AO
** Email Reporter X
*** Imagem X José Albergaria