terça-feira, agosto 12

Portugal Olímpico


Tenho visto intermitentemente as transmissões televisivas dos Jogos Olímpicos (e procurado não ouvir os lamentáveis comentadores portugueses, tanto os especialistas como os generalistas). De um modo geral, não domino as modalidades em que os portugueses têm participado, "com esperança", e, por isso, não me sinto habilitado a considerações de natureza técnica, eu que até pensava que wasari era uma variante de sushi. Contudo, vou conhecendo alguma coisa da psique humana e não posso deixar de lamentar a auto-desconsideração da generalidade dos atletas portugueses.
Não acredito que se trate de uma estratégia colectiva da delegação nacional aos Jogos de Pequim. Parece-me, antes, que é algo que finca mais fundo e radica na mentalidade competitiva deste infeliz país de quase-campeões. Até Vanessa Fernandes - simplesmente uma das três melhores atletas do mundo de todas as modalides - chegou à capital chinesa dizendo que "os Jogos Olímpicos são uma prova muito especial porque toda a gente está no máximo da forma". Que raio! "Toda a gente" inclui a própria Vanessa Fernandes e se ela ganha tudo, também pode, legitima e categoricamente, ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos, ou não?
O problema é que na mente dos portugueses a preparação da desilusão está sempre primeiro do que a inconsciência da ilusão. Dito de outro modo, o medo de poder perder, e de por isso ser censurado, é muito mais forte do que o desejo de ganhar.
Ficar em 7º ou em 9º no Judo, ou em 23º na natação, não me causa qualquer espécie; agora entrar em prova a falar da excessiva velocidade do vento, da forma dos adversários, da qualidade das arbitragens ou do carácter exótico da comida, isso já me provoca um gélido arrepio de espinha, porque é mais português do que ganhar. E não há programa olímpico que o possa mudar.

* Na fotografia, à direita, Nino Salukvadze, atiradora georgiana que obteve a medalha de bronze e que tinha todas as razões e mais alguma para ser portuguesa e ficar em décimo.

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