terça-feira, outubro 28

O Nosso Homem na América - Washington

Monumento de tributo aos soldados que combateram na Guerra da Coreia, Washington DC

Estou em DC, como os locais (cerca de 570 mil) gostam que chamem à sua cidade, ou melhor dito, ao seu distrito federal, estabelecido em 1790 como capital dos EUA. O maior negócio de Washington é a política, quer em sentido literal - com todas as instituições federais, os respectivos staffs e as diversas agências governamentais - como em sentido mais amplo - incluindo lobistas profissionais, empresas de consultoria, embaixadas, visitantes estrangeiros, think tanks e por aí fora.
A cidade é governada por um Mayor e por 13 vereadores, e elege um membro da Câmara dos Representantes, embora sem direito de voto, uma vez que não se trata de um representante estadual no verdadeiro sentido do termo - é por isso que em muitas das matrículas dos carros registados em DC pode ler-se "taxation without representation". Aliás, os habitantes de Washington só votam para as Eleições Presidenciais desde 1964 e só a partir de 1975 passaram a ter direito a uma forma limitada de auto-governo.
Mesmo assim, com todos estes condicionalismos, Washington continua a ser sinónimo de Governo Federal e Governo Federal é algo que os americanos, em geral, não vêem com bons olhos, para dizer o mínimo. Todo o sistema político e eleitoral americano foi erigido com o preciso objectivo de proteger o indivíduo, a liberdade individual, do Governo, que nunca pode ser deixado à solta e que só pode ser concebido se limitado e controlado.
Washington é também sinónimo de impostos e impostos são um dos maiores ódios de qualquer americano. Apesar dos Estados Unidos serem um dos países do mundo com menor carga fiscal - 32,8% do PIB contra, por exemplo, 54% no caso da Suécia - os americanos acham sempre que pagam demasiado impostos e fazem da questão ponto de honra essencial em toda e qualquer campanha. Acresce que o peso do Estado Federal no financiamento das políticas estaduais e nos respectivos orçamentos é muito reduzido -em cada 100 dólares dispendidos por um qualquer estado apenas 9 provêm do Orçamento Federal - e, correspondemente, também a influência de Washington na Educação, nas Polícias ou até mesmo na Economia.
A única excepção que os americanos concedem a Washington é no domínio dos Negócios Estrangeiros, área que está integralmente acometida ao poder federal e em relação à qual, exceptuando contextos de crise internacional, o americano médio se está positivamente nas tintas.
As sondagens dizem que o Distrito de Columbia já há muito se decidiu maioritariamente por Obama, mas não dizem que Obama representa "a mudança" porque, mesmo sendo, ele próprio, um Senador Federal, promete lutar contra o sistema de Washington, fazer as coisas de outra forma que não à maneira de Washington, a mesma que terá transformado um patusco Governador do Texas numa ridícula figura de tragicomédia.
Há outra coisa que as sondagens não dizem sobre Washington e que é um mito urbano comprovado pela história: 94% das vezes nos últimos 76 anos, a vitória dos Washington Redskins a( equipa de futebol americano da cidade, tida como das mais fracas do país) no jogo imediatamente anterior às eleições presidenciais coincidiu com uma vitória republicana. Os Redskins jogam na segunda-feira, dia 3, à noite.

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