terça-feira, março 17

as dores da vida pública

Meu Caro Carlos

Deixa que comece por uma homenagem, uma homenagem ao Veríssimo. É que desde o início do ano, quando toda esta história do Núcleo da Quercus começou, o meu principal desígnio em participar, foi uma preocupação íntima com estas questões e a vontade de elogiar o trabalho que o Veríssimo Borges protagonizou ao longo destes anos na defesa do ambiente nos Açores. Sei que isto pode parecer uma lamechice populista, mas a verdade é que nos últimos dias tenho, temos, tentado fazer passar esta mensagem de louvor ao Veríssimo e ela tem ficado soterrada no lamaçal partidário.

Deixa também que te diga que não tenho qualquer motivo obscuro para fazer este discurso panegírico ao Veríssimo Borges, não só não concordei com ele muitas vezes, nomeadamente na questão da proibição da apanha das “leivas” para a cultura do ananás, em que acho que ele foi literalmente levado pelo lobby da lavoura e pela manipulação de uns pequenos políticos de ocasião, como em diversos momentos fui contra a forma ditatorial, dogmática e por vezes "isolacionista" com que o Veríssimo geriu os destinos do Núcleo da Quercus de São Miguel. Mas apesar de tudo, posso te confessar que, é pelo Veríssimo que estou aqui, pelo seu exemplo, pela causa que ele representava e, principalmente, pela defesa do património ambiental do arquipélago dos Açores. Nesse sentido posso te dizer que o Veríssimo Borges foi um extraordinário líder, porque apesar das suas idiossincrasias tinha uma causa e um objectivo para o bem comum.

Depois poderia entrar numa discussão sobre o meu currículo político, intelectual, associativo, etc., etc. Limito-me a constatar o óbvio, que sou militante n.º 60946 da secção de Ponta Delgada do Partido Socialista/Açores e que sou o sócio n.º 13039 da Quercus. Também sou sócio de outras agremiações, sou inclusive dirigente de uma associação sem fins lucrativos que visa defender os interesses dos praticantes de desportos de ondas nos Açores. Ah, e também sou sócio do Benfica! Será que isto é relevante? Julgo que não.

Posto isto, deixa que te conte uma história. Quando assumimos a intenção de desempenhar a direcção do Núcleo da Quercus em São Miguel sabíamos ao que íamos, mas desde o princípio que o nosso propósito foi de quebrar com os preconceitos e com os métodos instituídos. Esta Mesa da Direcção foi apresentada e assume-se como colegial, agregando os esforços e as responsabilidades de todos os seus membros. Ontem e hoje tentei fazer passar essa mensagem, mas o único motivo de interesse parece ter sido a filiação ou os cargos de cariz político-partidário de dois dos 5 membros desta direcção. Não quero parecer cínico, mas ninguém se lembrou de perguntar ao Luís Rodrigues se ele ia defender os interesses dos pescadores ou do ambiente, se da sustentabilidade dos mares açorianos ou da sustentabilidade da industria pesqueira?!?! Ou até se eu defenderia mais os interesses de uma utilização humana das zonas próprias para a prática dos desportos de ondas em detrimento da preservação ambiental desses mesmos locais?!?!... No fim da conferência de imprensa de hoje fui mesmo obrigado, por brincadeira, a questionar se havia alguma pergunta sobre ambiente… (o meu snobismo levou a melhor sobre mim…)

Vamos então ao assunto que todos comentam e que o teu post também levanta. Ubiquidade ou ambiguidade. Nem uma coisa nem outra. Antes de mais há uma distinção de fundo, no que toca às possíveis comparações com o que digo no meu post sobre o Mário Fortuna, que é da maior relevância. É que eu não pertenço a nenhum órgão directivo do PS/A, aliás hoje o Vasco Pernes considerou-me um ilustre membro do Partido Socialista, algo que muito me honra, mas que é manifestamente falso. Limito-me a ser um militante de base, eleito sim, mas em fim de mandato à Assembleia Municipal de Ponta Delgada, cargo que ocupei democrática e civicamente com muito orgulho mas infelizmente com pouco gosto e membro indistinto da Comissão de Ilha de São Miguel do PS, apenas. Nada disso é sequer relevante para o futuro do Partido ou para quaisquer decisões políticas do Governo Regional, que é sustentado pelo partido a que pertenço.

Ao contrário e pelo que ainda hoje estava escrito no site oficial do PSD/A, Mário Fortuna é membro da Comissão Política Regional do PSD/Açores, que é tão-somente o mais importante órgão directivo do partido. E é também candidato a dirigente (não quero dizer líder) da CCIPDL e do Concelho de Gestão da UA. Querer sequer comparar uma situação com a outra é mais do que desonestidade, ou que prostituição intelectual (gosto desta expressão…), é manifesta chicana política.

Não me cabe a mim falar pelo Alexandre mas, só uma profunda desonestidade política e moral pode permitir que se agite o libelo de ingerência ou de instrumentalização, ou mesmo de esbirro de uma vontade partidária a alguém que antes e depois de ser eleito sempre defendeu, em sua consciência, aquilo que crê serem os melhores interesses dos Açores e dos açorianos.

No meu caso pessoal, que como é do conhecimento de todos não sou uma pessoa próxima da actual direcção do PS/A, sempre defendi publicamente as posições que achei serem as melhores para o bem comum de todos os açorianos e dos Açores, mesmo quando contra o meu partido. Acredito ainda hoje que isso é o melhor que posso fazer como militante e como pessoa que acredita nos partidos e no meu partido em particular, creio que tu, caro Carlos, também o farás. Não sei se outros poderão dizer o mesmo.

Voltando ao caso concreto de uma candidatura a um lugar de eleição. Todos os que se candidatam estão sujeitos ao escrutínio dos cidadãos e dos media, mesmo da blogoesfera e do blogoarquipélago, nem vale a pena sequer lembrar o caso do actual Primeiro-ministro. Esse escrutínio visa definir a integridade e o perfil desse candidato para que assim os eleitores possam tomar uma decisão. Eu, que neste momento não sou candidato a nada, tive no meu passado adolescente, embora expurgado por delito menor e prazo, um cadastro. Isto obviamente não interessa para nada, mas eu sou apenas membro da Mesa da Direcção do Núcleo da Quercus de São Miguel, não sou nenhum candidato a Presidente de uma Câmara de Comércio e Indústria de lugar nenhum.

Por último, meu querido amigo, nisto há muito pouco de partidário, há sim uma visão particular daquilo que deve ser o desempenho de cargos públicos e sobre o que deve ser a luta por esse fito intangível do bem comum.

Um grande abraço

P.S para desanuviar recomendo esta grande banda The Pains of Being Pure at Heart

Sem comentários: