segunda-feira, agosto 4

O canto da sereia neoliberal

Passei toda a minha vida a ouvir os sacerdotes do neo-liberalismo com a história de que "Estado é mau gestor por natureza" e que "os privados é que são bons". Pois o caso BES/GES, se dúvidas houvesse, vem provar à exaustão que isto não é assim nem por natureza, nem por princípio.

Fartavam-se os mesmos fanáticos de falar nas vantagens da privatização da Segurança Social. Pois nem quero imaginar as insónias que passaria um pensionista nas últimas semanas se a sua pensão estivesse a cargo de um qualquer fundo gerido pelo BES. Aliás, imagino o alívio dos pensionistas do Fundo de Pensões do BES por entretanto ter passado para a Segurança Social...

E os mesmos iluminados fartavam-se de sugerir a privatização da Caixa Geral de Depósitos, ávidos de abocanhar mais uns quantos milhões, com o argumento de que a Banca era coisa para estar exclusivamente nas mãos de privados. Pois bastou o BPN para irem todos “pedir pelas almas” para que o Estado os acudisse dos perigos da propalada “crise sistémica”. E julgámos todos que o gangsterismo bancário estava limitado aos "banqueiros" arrivistas e aventureiros, do tipo BPN e BPP, que se aproveitaram do laxismo trazido pelo thatcherismo nos anos 80 e do favoritismo político que as ligações partidárias permitiram; afinal, o caso BES/BESI mostra que a falta de escrúpulos atinge o círculo dos banqueiros de mais elevado pedigree e que as regras do jogo parecem ser aquelas. E lá ficou o contribuinte com o preço dos mandos e desmandos do BPN, como – provavelmente – acontecerá no fim das contas do processo BES.

São uns queridos…. uns fofos esta direita radical e estes banqueiros nacionais.

É certo que a coisa pública esteve longe de ser um exemplo de boa gestão todos estes anos nas mãos de quem esteve. É um facto. Mas para vermos "bons gestores privados" e as “virtudes da boa gestão privada” já nos bastam os exemplos que temos tido e preço que temos pago.