segunda-feira, setembro 29

As Primárias do PS

I - O dia de primárias no PS foi, no essencial, uma vitória para o partido. A adesão em massa dos eleitores, a tranquilidade dos procedimentos e a expressividade dos resultados é disto prova inequívoca. A Comissão Eleitoral está de parabéns, tendo sido capaz de montar e acompanhar um processo complexo e a uma escala totalmente inovadora para um partido político com a dimensão do PS, correndo contra as adversidades que um calendário curto e a decisão improvisada de convocar este modelo eleitoral lhe colocava.

II – Costa teve uma vitória estrondosa e acaba por ter de agradecer à estratégia de Seguro, por lhe ter conferido uma legitimidade além das fronteiras do PS. Uma diferença de 70% (Costa) contra 30% (Seguro) é uma abada eleitoral em toda a linha. Embora continue a entender que as primárias representam uma irreversível desvalorização da militância, que ocorre à margem dos Estatutos e com reflexos inevitáveis no esbatimento ideológico do partido, o certo é que a estratégia de Seguro lhe saiu completamente furada e que Costa tem hoje uma legitimidade muito mais forte do que a que resultaria de um simples congresso extraordinário.

III – Apesar disto, temos de reconhecer que Seguro teve uma saída limpa. Admitiu a derrota, demitiu-se de Secretário-geral do PS, cumpriu a palavra dada e fica apenas como militante de base. Em democracia, tão importante como ganhar ou perder, é saber tirar as devidas consequências das derrotas e das vitórias. A clareza política não se compadece com “desculpas” e, de facto, Seguro, depois de ter exposto o PS da forma como expôs e durante tanto tempo, não tinha outra saída digna. Saiu como deve de ser.

IV – Porém, é um facto que emergem cicatrizes inquestionáveis destes últimos quatro meses. Apesar dos resultados de Costa e da saída irrepreensível de Seguro, não há como não reconhecer que a unidade e coesão do partido ficou tremendamente abalada com todo este processo, a sua delonga e a forma como ambas as candidaturas conduziram a campanha e os diversos debates televisivos. António Costa tem um ano para refazer a unidade no PS e terá ainda de concentrar-se no programa eleitoral, sem poder descurar-se de nenhuma. 

V - O maior derrotado da noite é o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas. Depois de desejarem à força toda o oponente eleitoralmente mais frágil, eis que não só lhes sai o candidato mais forte como, ainda por cima, vem revestido de uma prévia legitimidade extra-partidária, com expressivos resultados e com renovada energia. É caso para dizer, de facto, como disse António Costa, " este é o primeiro dia do fim deste Governo".

VI - Cá pelas nossas bandas, não há dúvida que esta é também uma vitória para Carlos César. Depois de ter sido designado mandatário nacional da campanha de Costa nas primárias; sendo amigo e parceiro de combate desde os tempos da JS; sendo quem, no Congresso do PS-Açores, lançou pela primeira vez o nome de Costa para a calha da liderança do PS; e com os resultados que obteve na federação de que é presidente honorário (87%, é obra), é natural agora que se transforme numa relevante peça no xadrez político nacional. Carlos César deixa, assim, Vasco Cordeiro definitivamente liberto da figura tutelar. Para Vasco esta é a derradeira oportunidade de cortar o natural cordão umbilical que lhe une ao histórico líder do PS-Açores. Na psicanálise política, para que as rupturas aconteçam, não basta que os protagonistas o desejem. Na natureza como na política, as rupturas só acontecem quando o ambiente lhes é propício. Este é o momento.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Jose Couto
Mesmo com as limitacoes de quem, escreve em tabllet e nao sabe usar os acentos, etc, nao podia deixar de discorda de algumas ideias do seu texto, penso que e a primeira vez que nao estou a cem por cento de acordo consigo...
De facto, na minha simples opiniao, Costa nao acrescenta a seguro nada mais do que o elan que no essencial os medias criaram sobre a mais valia de Costa...
Que fez Costa de possitivo
Por onde andou?
Muito mais se podia dizer sobre os silencios de Costa,desde logo em relacao aos desmandos de Socrates, mas tambem sobre as suas propostas politicas, mas tambem, como exemplo, o que ele fez nos cemiterios de lisboa, onde criou limitacoes, aumento de precos e favorecimento a empresas funerarias no tratamento das campas...De tal forma que nao me custa a acreditar nas acusacoes de segiro.
Muito gostaria que esta onda criada com a escolha de Costa fosse uma onda de fundo nao so para derrubar passos, que ira acontecer, mas sobretudo para mudar de politica o que ja duvido..
Saudacoes
Seja como for, sem duvida que este post. Sacode o marasmo do ilhas, parabens por isso.
Acor